Coelho, Vila Nova de Gaia

Bordalo II quer-nos mostrar os animais que fez com o nosso lixo

O desperdício e os seus efeitos na natureza são as ideias centrais de ATTERO, a primeira grande exposição a solo de Bordalo II. Com obras espalhadas por 19 países, este artista português abre-nos a porta do seu armazém/atelier de 4 a 26 de Novembro, no Beato, em Lisboa.

 

Nos últimos anos, Bordalo II deu nova vida a 28 toneladas de desperdícios. Com eles criou 88 animais selvagens, expostos nas fachadas de edifícios em 19 países em três continentes. Um esquilo-vermelho em Dublin (Irlanda), um sapo em Baku (Azerbaijão), um pinguim em Bordéus (França), um esquilo em Tallin (Estónia), um rato em Paris (França) e outro em Londres (Reino Unido) e um lobo em Boras (Suécia) são apenas alguns.

 

Urso em Turim, Itália.

 

Em Portugal, podemos ver os animais de Bordalo II nas ruas de 15 cidades: Águeda, Bragança, Castelo Branco, Costa da Caparica, Covilhã, Estarreja, Fundão, Leiria, Lisboa, Loures, Montijo, Oeiras, Porto, Salvaterra de Magos e Viseu. As espécies são variadas, desde piscos-de-peito-ruivo, corujas, garças e camaleões a guarda-rios, peixes, osgas, ginetas, javalis, linces, abelhas e lobos. E polvos, grifos, coelhos e lontras.

Artur Bordalo, 30 anos, é hoje reconhecido por Bordalo II, nome artístico que escolheu como homenagem ao avô, o pintor Real Bordalo. Passou a juventude entre a paixão do avô pelas aguarelas e as aventuras em torno do graffiti ilegal no submundo de Lisboa. Foi na Faculdade de Belas Artes de Lisboa que descobriu a escultura e a experimentação de vários materiais.

 

Bordalo II. Foto: Valerio Polici

 

Escolheu o espaço público para desenvolver o seu trabalho artístico, focado em questionar a sociedade materialista e gananciosa. Na verdade, a produção excessiva de coisas ou o consumo exagerado, que resulta na contínua produção de lixo e consequentemente, na destruição do nosso planeta são os temas centrais da sua produção artística.

A mostra que estará em Novembro no Beato num espaço com 650 metros quadrados pretende ser um “incontornável comentário à nossa sociedade consumista e à forma como exploramos, muitas vezes de forma abusiva, os recursos que a Natureza nos dá”, segundo um comunicado. Neste armazém – o atelier de Bordalo II, e longe do circuito de galerias e museus – o visitante será convidado a refletir sobre o seu próprio papel enquanto actor na sociedade em que se insere.

 

Flamingos em Oeiras, em 2016

 

Nesta exposição poderá ver uma retrospectiva das obras que Bordalo II já criou até hoje. Todas feitas de lixo transformado pela sua mão e visão em algo maior. Há peças de diferentes escalas, novas abordagens resultantes da exploração de novos media e algumas peças da sua mais marcante série “Big Trash Animals”.

ATTERO – que em Latim quer dizer “desperdiçar” – “surge com uma vontade pedagógica e de transmissão de uma consciência ecológica por parte do artista, que propõe aos seus visitantes um grande conjunto de atividades de sensibilização para os temas para os quais a exposição remete”.

 

Half Rabbit, Vila Nova de Gaia

 

Aqui fica o programa destas três semanas:

11 de Novembro:

15h00 — Atividade reservada para a SPECO — Sociedade Portuguesa de Ecologia, no âmbito do Encontro Nacional de Ecologia.
16h00 — Visita Temática com João Farinha, biólogo de Recursos Faunísticos e Ambiente, actual Chefe de Divisão de Valorização de Áreas Classificadas e Coordenador da marca Natural.PT do ICNF — Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas. Inscrições gratuitas e limitadas a 20 pessoas.

12 de Novembro: 
16h00 — Tertúlia do “Lixo Marinho” com a moderação de Paula Sobral, bióloga Doutorada em Ciências do Ambiente e Professora da FCT-UNL, fundadora e Presidente da APLM — Associação Portuguesa do Lixo Marinho, entidade sem fins lucrativos convidada pela SPECO — Sociedade Portuguesa de Ecologia. Entrada livre.

18 de Novembro: 
16h00 — Apresentação da AIRLITE, empresa parceira da exposição com o COO Arun Jayadev.  Entrada Livre; Sessão em Inglês.
17h30 — Apresentação do projecto FORCE com a Eng. Carla Tamagnini (CML).

19 de Novembro: 
15h00 — Workshop do artista com um grupo de crianças desfavorecidas.
17h30 — Visita guiada da Curadora, Lara Seixo Rodrigues. Inscrições gratuitas e limitadas a 30 pessoas.

25 de Novembro: 
15h00 — Workshop do Artista para um grupo de crianças. Inscrições gratuitas e limitadas a 15 crianças (dos 8-12 anos).
17h30 — Visita guiada da Curadora, Lara Seixo Rodrigues. Inscrições gratuitas e limitadas a 30 pessoas.

26 de Novembro:  
16h00 — Visita guiada pelo artista. Inscrições gratuitas e limitadas a 30 pessoas.
18h00 — Encerramento da exposição.

 

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“ATTERO” by BORDALO II
Rua de Xabregas 49, Beato
1900-439 Lisboa.
Inauguração a 4 de Novembro, das 16h00 às 21h00.
Exposição de 4 a 26 de Novembro. Aberto de Quarta a Domingo, das 14h00 às 20h00.
Entrada gratuita.

Curadoria: Lara Seixo Rodrigues

 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.