uma mulher observa de binóculos a baía de sagres
Festival de Sagres. Foto: Joana Domingues

Guia para aproveitar o Festival de Observação de Aves de Sagres

Está quase a chegar a oitava edição do Festival de Observação de Aves de Sagres. São mais de 200 actividades de observação de aves e ligadas à natureza que se realizam este ano de 4 a 8 de Outubro, entre quarta-feira e domingo.

 

A Wilder colocou algumas questões a Joana Domingues, da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, que organiza este Festival em parceria com a Câmara Municipal de Vila do Bispo e com a associação Almargem. E desvenda-lhe (quase) tudo o que precisa de saber.

 

Wilder:  Qual é a importância da península de Sagres para os observadores de aves, nesta época do ano?

Joana Domingues: Sagres localiza-se no extremo sudoeste de Portugal (e da Europa) e por isso é um local de convergência de aves migratórias. Isto é sobretudo notório quando ventos do quadrante Este “empurram” migradores desde o estreito de Gibraltar – a sua rota preferencial – até estas terras do fim do mundo.

 

um alcatraz em pleno voo
Alcatraz. Foto: Carla Salvador/CMVB

 

A área é aliás frequentemente apelidada de “planície das aves perdidas”, pois muitas das que aqui chegam são juvenis ou imaturas, que perderam o rumo da sua rota preferencial através do Estreito de Gibraltar.

Além do mais, Sagres concentra migradores na sua rota para Sul, e é uma janela aberta para um movimento em larga escala de aves ao longo do sul da Europa. De Agosto a Novembro os migradores são encaminhados para a península pelos vales costeiros e linha de costa, acabando por se congregar na zona antes de seguirem viagem.

 

W: Que aves migradoras poderão ser observadas durante o Festival? Quais é que se destacam?

Joana Domingues: Sagres é o local a visitar nesta época, para quem quiser testemunhar a migração outonal de passeriformes, aves marinhas e aves de rapina, o grupo porventura mais emblemático da migração no local. Mas não só. Durante a migração em Sagres, tudo pode acontecer.

A Natureza é sempre uma incógnita, mas há espécies que é quase certo que vão ser observadas. Temos as residentes comuns como a cotovia-montesina (Galerida theklae) e o pombo-das-rochas (Columba livia), que passam grande parte do ano em Sagres.

 

uma ave castanha de olhos amarelos espreita no meio das ervas castanhas
Bútio-vespeiro. Foto: Jo Kurz / Wiki Commons

 

Temos também as residentes mais raras, espécies que causam sempre furor, como a gralha-de-bico-vermelho (Pyrrhocorax pyrrhocorax) e o falcão-peregrino (Falco peregrinus). Finalmente temos as migradoras e as mais ansiadas como o painho-de-wilson (Oceanites oceanicus) e o bútio-vespeiro (Pernis apivorus).

Além do mais, a grande maioria das aves migradoras que ocorrem em Portugal pode ser aqui encontrada durante a época migratória.

 

W: E quanto à observação de outras espécies, como os cetáceos?

Joana Domingues: Durante o Festival, as espécies mais observadas de cetáceos são o golfinho-comum (Delphinus delphis), seguido do golfinho-roaz (Tursiops truncatus), do boto (Phocoena phocoena) e da baleia-anã (Balaenoptera acutorostrata). Ocasionalmente também podemos observar outras espécies como a baleia-comum (Balaenoptera physalus), a orca (Orcinus orca) e o golfinho-do-risso (Grampus griseus).

 

dois golfinhos saltam fora da água do mar
Foto: Carla Salvador / CMVB

 

W: Que conselhos dão a quem vai pela primeira vez?

Joana Domingues: Antes de mais, marquem o alojamento para os dias que pretendem e olhem atentamente para o programa, para fazerem um plano das actividades em que pretende participar. É preciso ter atenção para não sobrepor actividades, porque depois não conseguem ir a todas e tiram a vez de outras pessoas.

Estejam atentos às novidades no Facebook e na newsletter do festival para estar a par de todas as novidades que vão surgindo. Quando chegarem a Sagres, dirijam-se ao Forte do Beliche para recolher as suas pulseiras e saber quais os próximos passos a seguir.

 

W: Qual tem sido a afluência? 

Joana Domingues: No ano passado batemos o recorde no número de participantes: alcançámos 1.166 pessoas de 29 nacionalidades. Além de Portugal, Espanha, França, Suíça, Alemanha e de outros países da Europa, tivemos pessoas da Turquia, Rússia, Canadá, Índia, Argentina, Brasil, Austrália, Estados Unidos da América e Nova Zelândia.

 

Um grupo de pessoas espreita para o horizonte com binóculos e telescópios
Observação de aves no Festival de Sagres. Foto: SPEA

 

W: Vale a pena ir com crianças?

Joana Domingues: Claro! Temos várias actividades dirigidas aos mais novos, que podem ser consultadas aqui.

Quanto a idades, existem actividades a partir dos 5 anos, mas vamos ter uma actividade que pode ser para recém-nascidos de ‘babywearing’. Além disso, os participantes podem visitar Sagres: a fortaleza, a vila, as praias, etc.

Existem também outras actividades em que os mais novos podem acompanhar os adultos, se estes acharem que são adequadas.

 

W: Quais são as principais novidades este ano?

Joana Domingues: Quem viajar de comboio tem 30% de desconto nos serviços regional e inter-regional, até Lagos; no Forte do Beliche, vamos ter um espaço de alimentação saudável para quem quiser comer algo mais leve entre as atividades; o comboio turístico que teremos à disposição dos participantes e da população nestes dias vai contar nesta edição com visitas interpretadas por um historiador do município de Vila do Bispo.

Outra das novidades é um observatório móvel dinamizado por uma das empresas parceiras.

E para relaxar, contamos com musica ao vivo num ambiente descontraído no Forte do Beliche.

            

[divider type=”thin”]Saiba mais.   

Pode consultar aqui o programa do Festival e fazer a sua inscrição, tendo atenção à informação sobre as actividades, uma vez que algumas estão esgotadas.

É também possível ver as listas de alojamentos e restaurantes que apoiam o festival, entre outros parceiros, que dão descontos aos participantes.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.