Gineta (Genetta genetta), em Benavente.
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Há uma exposição de vida selvagem nocturna para conhecer

Foi em Setembro de 2009, depois de ter avistado um veado em liberdade na Serra da Lousã, pela primeira vez, que Nuno Xavier Moreira começou a ficar cada vez mais fascinado por fotografia de natureza. Desde então, nunca mais parou. Em especial à noite.

 

“Na altura em que avistei o veado, decidi comprar equipamento fotográfico que permitisse alguma rapidez e capacidade de alcance”, contou à Wilder este engenheiro electrotécnico, de 37 anos.

Nuno vive no Grande Porto mas viaja muitas vezes por todo o país para fazer assistência técnica a equipamentos científicos. E é nessas deslocações que aproveita para procurar vida selvagem – quase sempre à noite, porque acontece depois das horas de serviço.

 

Sapo-corredor (Epidalea calamita), em Fão
Sapo-corredor (Epidalea calamita), em Fão

É dos últimos três anos destas saídas nocturnas que nasceu a exposição que abriu agora, no dia 6 de Fevereiro. Retratos de anfíbios, répteis, mamíferos, aves e insectos, todos eles fotografados à noite, podem ver-se até dia 30 de Março no Salão de Fotografia da Natureza do Parque Biológico de Gaia.

 

Coruja-das-torres, em Vila Franca de Xira

Nuno prefere andar à procura de espécies mais difíceis de observar, ou por serem em pequeno número, ou devido aos hábitos que praticam. “Contudo, as surpresas acabam por compensar as saídas menos “produtivas””, recorda. “Como foi o caso quando procurava corujas do mato e acabei por encontrar-me com uma simpática gineta!”

 

Gineta (Genetta genetta), em Benavente

O fotógrafo adianta ainda que costuma levar o automóvel nestas saídas, além de usar sempre equipamento adequado. “Faço fotografia de quase toda a fauna que surja na calada da noite, nas quais é obrigatório o uso do flash e iluminação complementar (lanternas de longo alcance)”, explica.

Foi quando vagueava a pé por Proença-a-Nova que lhe aconteceu uma história curiosa. Perto de um ribeiro à procura de lontras, Nuno ouviu um som estranho que pensou ser de uma cria de mamífero.

“Mas, quando me aproximei, vi que se tratava de um juvenil da espécie bufo-pequeno (família dos mochos) em chamamento. Alguns instantes depois, observei a progenitora a entregar-lhe um pequeno roedor, ainda vivo!”, sorri.

 

Bufo-pequeno juvenil (Asio otus), em Proença-a-Nova
Bufo-pequeno juvenil (Asio otus), em Proença-a-Nova

Outro momento que considera “muito importante” foi o que resultou numa fotografia do morcego-de-ferradura-pequeno (Rhinolophus hipposideros), obtida a 7 de Dezembro passado nas antigas minas de carvão em Castelo de Paiva.

 

Morcego-de-ferradura-pequeno (Rhinolophus hipposide), em Castelo de Paiva
Morcego-de-ferradura-pequeno (Rhinolophus hipposide), em Castelo de Paiva

“Esta fotografia tem um significado muito especial para mim porque, até ao anos 80, o meu avô paterno trabalhou em Castelo de Paiva como mineiro. Passados cerca de 30 anos, pude visitar pela primeira vez aquele espaço privado e tentar imaginar a vida difícil que ele terá tido dentro daquelas paredes”, conta à Wilder.

Depois desta exposição, Nuno quer dar a conhecer as suas fotografias noutros pontos do país, como a zona da Grande Lisboa. Pretende ainda criar parcerias com entidades locais, como hotéis e autarquias, para realizar ‘workshops’ de fotografia de vida selvagem nocturna e sensibilizar para a importância dessas espécies nocturnas no equilíbrio da natureza.

 

Sapo-de-unha-negra (Pelobates culprites),_em Mindelo

[divider type=”thin”]Agora é a sua vez.

Nuno Xavier Moreira explica-lhe quais são alguns dos pontos essenciais para fazer fotografia de vida selvagem nocturna:

“A fotografia nocturna requer um equipamento de qualidade razoável e que faça sentido com o tipo de espécie que se procura, como por exemplo uma teleobjectiva para fotografia de aves nocturnas e lentes de macro para anfíbios. É sempre necessário o uso do flash (eu uso o Canon 580 EX2) e de lanterna(s) potente(s) e leve(s). Eu tenho sempre uma lanterna (Fenix TK35) acoplada às minhas lentes (Canon 100-400mm L e Sigma 150mm 2.8), uma vez que faço fotografia quase sempre sozinho.

Não considero que haja espécies fáceis de fotografar à noite, uma vez que estamos a falar de espécies que estão em estado selvagem. Depende da zona e/ou da altura do ano. Mas a título de exemplo, entre Julho e Setembro, as Lezírias de Vila Franca são excelentes para fotografar as corujas. Por outro lado, a zona do Mindelo é um local fantástico para fotografia de anfíbios no Inverno e Primavera.

Um dos riscos da fotografia nocturna é a possibilidade de equívoco por parte de proprietários ou moradores (zonas rurais) sobre o propósito desta actividade. Já me aconteceu, fui abordado, mas sem problemas, felizmente!

Em suma, dêem sempre preferência à naturalidade do momento do registo fotográfico, em prejuízo da qualidade da mesma (se for necessário), porque esse momento será vivido com uma grande intensidade!”

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.