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Ribeira. Foto: Helena Geraldes (arquivo)

No rio Mondego, vai dar-se a conhecer uma ‘via verde’ para peixes

O Açude-Ponte de Coimbra existe no rio Mondego desde que foi construído, em 1981, dificultando a passagem das várias espécies migratórias que ali ocorrem, pois está apenas a 45 quilómetros da foz.

 

No entanto, desde 2011 que espécies como a lampreia-marinha, a truta-de-rio, a boga-comum e a enguia passaram a poder utilizar uma passagem construída expressamente para facilitar o livre curso de peixes migradores ao longo do Mondego.

A Passagem para Peixes do Açude-Ponte de Coimbra, inaugurada em Dezembro de 2011, substituiu uma passagem anterior que se revelou “ineficaz”, lembra a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), gestora deste equipamento, no site dedicado ao projecto.

Desde então que mais de um milhão de peixes, todos os anos, se cruzam neste ‘caminho’ composto por 23 bacias sucessivas de fendas verticais, ao longo de 125 metros de comprimento. Este projecto vai ser dado a conhecer numa visita realizada no âmbito do Dia Mundial dos Peixes Migradores, sábado dia 21 de Maio, que abarca também algumas passagens naturalizadas introduzidas em cinco açudes ao longo do percurso entre a foz do rio e Penacova.

 

Lampreias, enguias e trutas

 

É entre Dezembro e Maio que tanto a lampreia-marinha (Petromyzon marinus), como a savelha (Alosa fallax) e o sável (Alosa alosa), passam do mar para o estuário do Mondego. São os chamados migradores anádromos, que sobem o rio para desovar. Vai ser na água doce que os juvenis se desenvolvem durante algum tempo, para migrarem já adultos para o mar.

Os dois primeiros são hoje considerados espécies Vulneráveis, enquanto que o sável está classificado como Em Perigo.

Em sentido contrário, para desovarem na água salgada do mar, deslocam-se por sua vez duas espécies conhecidas no Mondego. Uma é a enguia-europeia (Anguilla anguilla), que na época de reprodução durante o Outono desce o rio em direcção ao Atlântico, onde se pensa que irá desovar no Mar dos Sargaços.

Já as larvas da enguia fazem o percurso inverso e acabam por regressar ao rio, depois de terem entrado numa fase de crescimento em que são conhecidas como ‘enguias de vidro’.

É nesta altura muito sensível do crescimento, aliás, que muitas enguias são vítimas de pesca ilegal intensiva, apesar de estarem classificadas como Em Perigo de conservação. De acordo com a informação da APA, em Portugal Continental e com excepção do Rio Minho, as enguias só podem ser pescadas quando ultrapassam os 22 centímetros de comprimento.

À semelhança da enguia, outra espécie conhecida como migrador-catádromo é o muge ou taínha (Liza ramada). É entre Novembro e Fevereiro que migra para o mar, na época de reprodução.

Mas ao longo do Mondego deslocam-se ainda outros peixes, que apesar de nunca saírem da água doce tentam percorrer grandes distâncias na época de reprodução: o barbo-comum (Luciobarbus bocagei), a boga-comum (Psudochondrostoma polylepis) e a truta-de-rio (Salmo trutta).

 

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O Dia Mundial dos Peixes Migradores celebra-se no dia 21 de Maio em 435 diferentes destinos por todo o mundo. Se desejar consultar as actividades programadas em Portugal e por todo o mundo e saber mais sobre este dia, pode consultar aqui o site internacional.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.