Iate Amélia, pintado por Carlos de Bragança. Foto: ©Fundação da Casa de Bragança
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Sete peças de uma nova exposição para conhecer no Aquário Vasco da Gama

A nova exposição da Sala do Átrio do Aquário Vasco da Gama, que recebe quem entra pelas portas do aquário-museu de Algés, fala aos visitantes sobre a paixão que o rei português D. Carlos I tinha pela oceanografia e pelo mundo natural.

A Wilder pediu a Maria Pitta, bióloga e responsável pela montagem desta exposição, para dar a conhecer sete das muitas peças curiosas que ali estão – todas elas parte da Biblioteca e da Colecção do Museu Oceanográfico D. Carlos I, legadas ao Aquário em 1935.

 

1. Tubarões capturados por D. Carlos

Foto: José Vicente/Agência Calipo

Estes tubarão carocho e tubarão-cobra, expostos na Sala do Átrio, foram capturados por D. Carlos junto ao Cabo Espichel, a 1.875 metros e a 850 metros de profundidade, respectivamente. Há mais de 100 anos.

D. Carlos tinha um grande fascínio pela vida nos oceanos e por tubarões, incluindo tubarões de profundidade. Estudou 32 espécies de tubarões da fauna portuguesa e publicou os resultados em 1904.

Ao longo da escada para o primeiro andar, podem ver-se ilustrações de espécies descritas pelo rei, e nesse primeiro piso estão à vista mais tubarões naturalizados – incluindo um tubarão-demónio capturado por D. Carlos ao largo de Sesimbra, em 1901, a 603 metros de profundidade.

 

2. Carta do príncipe Alberto I do Mónaco ao rei

José Vicente/Agência Calipo

Esta carta enviada em Outubro de 1896, há mais de 120 anos, é uma das sete que constam da colecção da Biblioteca do Museu Oceanográfico D. Carlos I (doada ao Aquário Vasco da Gama), endereçadas pelo príncipe Alberto do Mónaco a D. Carlos. Nesta carta, enviada pouco depois do início da primeira campanha oceanográfica do rei português, Alberto I descreve minuciosamente os métodos e equipamentos que utilizava nas suas próprias explorações marítimas.

D. Carlos tinha apenas 15 anos quando conheceu o príncipe Alberto I do Mónaco, que estava de passagem por Lisboa com a sua equipa de oceanógrafos. Esse primeiro encontro com o monarca estrangeiro, 15 anos mais velho, alimentou o fascínio do rei pelo mar. E traduziu-se numa troca de cartas e na partilha de descobertas científicas, que terminaram apenas com a morte do rei português.

 

3. Airo da Ilha Berlenga, acompanhado do respectivo ovo

Foto: José Vicente/Agência Calipo

 

Uma das muitas aves naturalizadas por D. Carlos I foi este airo (Uria aalge). A ornitologia foi um dos grandes interesses do monarca, mesmo enquanto ainda um jovem príncipe, e uma das áreas menos conhecidas da sua actividade científica.

Aos 24 anos de idade, dois anos antes de se tornar rei, chegou a lançar-se na escrita de um “Catálogo Ilustrado das Aves de Portugal”, convidando o seu mestre Enrique Casanova para ilustrar as 292 espécies que considerava ocorrerem em Portugal. A ideia era que o novo catálogo tivesse interesse prático, mas a publicação da obra, em fascículos, foi interrompida pela morte do rei, em 1908. [No lado direito da imagem, pode ver-se uma ilustração realizada por Enrique Casanova, incluída no primeiro fascículo do guia.]

 

4. Peixe-de-farol do mar profundo

Foto: D.R.

Capturado na costa da Nazaré por D. Carlos, em 1896, este peixe representa o fascínio do rei pelo mar profundo. Está conservado em formol há 120 anos.

O peixe-de-farol (Himantolophus groenlandicusvive de preferência a uma profundidade de 1.000 a 2.000 metros. As fêmeas apresentam o único raio da primeira barbatana dorsal transformado num filamento luminoso, que usam para atrair as presas.

Um dos instrumentos utilizados pelo monarca para capturas a grande profundidade era adaptado a partir do espinhel, uma espécie de linha com vários anzóis usada pelos pescadores de Setúbal.

 

5. Chicote-do-mar, uma esponja famosa

Foto: José Vicente/Agência Calipo

Esponja de águas profundas, uma Hyalonema lusitanicum exposta na Sala do Átrio foi capturada pelo rei, no Mar do Espichel.

No relatório da primeira campanha, D. Carlos lembra como a descrição de um exemplar desta espécie, feita por Bocage em 1863, causou polémica nos meios científicos. Nessa altura, dominava ainda a teoria de Forbes, de que não existiria vida no mar profundo, pois ali não chega a luz do sol. Ora, esta esponja veio contrariar essa teoria.

 

6. Pastel do iate Amélia, pintado por D. Carlos

Iate Amélia, pintado por Carlos de Bragança. Foto: ©Fundação da Casa de Bragança

 

Ao fascínio pelo mar e pelos temas marinhos, o rei aliava o gosto pela pintura. A embarcação aqui retratada é o iate Amélia I, o primeiro dos quatro iates que o rei baptizou em honra da rainha, e que utilizou nas campanhas oceanográficas. O comandante do Amélia I foi um dos mais conhecidos exploradores portugueses de África, Roberto Ivens.

A peça exposta no Aquário Vasco da Gama é uma reprodução a uma escala mais pequena da obra original, que está no Palácio Ducal de Vila Viçosa.

 

7. Uma fotografia de plâncton com mais de 100 anos

Fotografia da autoria de Carlos de Bragança. Biblioteca do Museu Oceanográfico D. Carlos I

Esta fotografia de uma larva de um crustáceo decápode data de 1896 e é da autoria de D. Carlos I.

O rei realizou as primeiras fotografias em Portugal de preparações microscópicas com plâncton, cujo estudo considerava ser importante para explicar a abundância e distribuição de outras espécies marinhas.

A biblioteca científica que foi legada ao Aquário Vasco da Gama em 1935, integrada na Colecção do Museu Oceanográfico D. Carlos I, detém no seu acervo 9 fotografias de preparações microscópicas realizadas por Dom Carlos em 1896.

 

Uma parte da Sala do Átrio, no Aquário Vasco da Gama. Foto: José Vicente/Agência Calipo

 

[divider type=”thin”]Saiba mais.

A nova exposição sobre D. Carlos I foi inaugurada em Novembro passado, no Aquário Vasco da Gama. Leia mais aqui sobre esta exposição e sobre a vida científica do rei português.

 

 

 

 

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.