borboleta pousada num ramo
Foto: Joana Bougard/Wilder

Vêm aí dois bioblitzs para descobrir o mundo natural na cidade

Vale a pena ir em busca da natureza mesmo no meio de grandes cidades? A equipa da BioDiversity4All acredita que sim. E por isso, dois bioblitzs acontecem já este fim-de-semana,  em Lisboa e em Almada.  A Wilder conta-lhe tudo, incluindo as espécies que poderá encontrar.

 

O Parque da Paz é conhecido como o pulmão da cidade de Almada. Este sábado, dia 27, quem estiver interessado vai poder acompanhar e ajudar vários biólogos numa inventariação-relâmpago das espécies que ocorrem nesse imenso espaço verde.

O novo bioblitz é organizado pela BioDiversity4All, com o apoio da Câmara Municipal de Almada, e acontece neste local pela primeira vez. “É uma área verde ainda considerável, muito importante para os habitantes do concelho, mas que se calhar desconhecem este aspecto mais biológico”, comenta Inês Teixeira do Rosário, uma das organizadoras.

“Nós vamos estar no Parque da Paz, junto ao monumento à paz, onde teremos uma ‘estação’ de apoio e de onde sairão as pessoas para os diferentes percursos temáticos, com os especialistas das várias áreas”, explica a bióloga.

 

Monumento à paz no Parque da Paz. Foto: Paulo Juntas/Wiki Commons

 

Tudo começa pelas 09h00: quem ali estiver vai identificar as aves que andam pelo Parque – as que se vêem, mas também as que se ouvem. Segue-se às 11h00 uma saída em busca de borboletas, libélulas e de outros insectos.

Os passeios acompanhados vão continuar ao longo do dia, sempre com temas diferentes e para todos os interesses: répteis e anfíbios, líquenes, flora e vegetação, mamíferos, e ainda aves nocturnas e morcegos, estes dois últimos pelas 20h00. Quem ficar para o final, promete a organização, vai conhecer os resultados.

 

Pintassilgo. Foto: Tony Hisgett/Wiki Commons

 

Mas que espécies se podem observar no Parque da Paz? “Na fauna poderemos ver de certeza várias espécies de aves mais comuns como o melro-preto (Turdus merula), a toutinegra-dos-valados (Sylvia melanocephala), a alvéola-branca (Motacilla alba), o pintassilgo (Carduelis carduelis), o verdilhão (Carduelis chloris), o chamariz (Serinus serinus), o pardal (Passer domesticus), a andorinha-das-chaminés (Hirundo rustica), etc”, descreve Inês Teixeira do Rosário.

Podem ver-se ainda aves maiores como as poupas (Upupa epops) ou os gaios (Garrulus glandarius).

 

Gaio. Foto: Jojo / Wiki Commons

 

Já os mamíferos “são mais esquivos e muitos são nocturnos”, mas quem participar neste percurso, agendado para as 18h00, vai encontrar certamente pegadas e outros vestígios. No caso dos morcegos, último grupo a ser procurado, pelas 20h00, “será possível registar a presença através de um detector de sons”.

E quanto aos répteis?  Por ali andam várias espécies de lagartixas (Podarcis spp.), mas com sorte pode-se ver o sardão (Lacerta lepida), ou a cobra-de-ferradura (Coluber hippocrepis), nota a bióloga.

 

Sardão. Foto: Haplochromis/Wiki Commons

 

“Borboletas e outros insetos de certeza que veremos muitos, tal como líquenes e penso que isso será muito interessante porque são grupos que as pessoas normalmente desconhecem.”

Por fim, quem andar em busca de plantas, vai ter muitas espécies para identificar. Na área mais ajardinada do parque, vêem-se por exemplo oliveiras (Olea europaea),  ameixoeiras-de-jardim (Prunus cerasifera var. pissardi), árvores-dos-rosários (Melia azedarach) e plátanos (Platanus x hispanica).

 

Flores da murta. Foto: Giancarlo Dessi/Wiki Commons

 

Na parte de mata, existem espécies espontâneas como o sobreiro (Quercus suber), a murta (Myrtus communis), o medronheiro (Arbutus unedo), o carrasco (Quercus coccifera) ou a gilbardeira (Ruscus aculeatus), entre muitas outras, descreve Inês Teixeira do Rosário.

 

Um bioblitz nos Olivais

 

Já no próximo domingo, dia 28, vai ser a vez de investigadores e o público em geral verem ‘à lupa’ a biodiversidade do Jardim da Biblioteca dos Olivais e também da Quinta Pedagógica, em Lisboa.

Tal como em Almada, esta iniciativa está a ser organizada pela Biodiversity4All, neste caso no âmbito da Sustentabilis – Feira de Empreendedorismo e Sustentabilidade, promovida pela Junta de Freguesia dos Olivais.

 

Foto: BioDiversity4All

 

“O Bioblitz nos Olivais é um pouco diferente de todos os que já organizámos”, ressalva uma das responsáveis por esta acção, Rita Baptista. Além de decorrer no meio da cidade e não num parque, nota esta formadora da Biodiversity4All, estão previstos dois dias de registos: o primeiro aconteceu na última quinta-feira, só para escolas; o segundo realiza-se domingo, aberto a todos os interessados.

“Pensamos que vai ser muito importante para sensibilizar a população para a biodiversidade existente nas cidades”, sublinha.

Aqui, à semelhança de Almada, não se parte do zero: “Observando o nosso site, temos 260 observações e 56 espécies registadas na zona”, adianta, acrescentando que “estes registos foram efectuados por particulares ao longo de vários anos”.

Ao longo da manhã e da tarde, vão suceder-se saídas acompanhadas por especialistas, em busca de insectos, aves e plantas. O fim será pelas 21h00, à procura de morcegos.

 

Estrelinha-de-cabeca-listada. Foto: Francesco Veronesi/Wiki Commons

 

“Os nossos participantes poderão encontrar aves como o pisco-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula), a estrelinha-de-cabeça-listada (Regulus ignicapilla), a alvéola-cinzenta (Motacilla cinerea) e o rabirruivo-preto (Phoenicurus ochruros)”, exemplifica Rita.

“No grupo dos insectos, poderão observar uma variedade de borboletas-diurnas como o almirante-vermelho (Vanessa atalanta), a azulinha (Lampides boeticus) e a borboleta-cauda-de-andorinha (Papilio machaon).”

 

Borboleta-cauda-de-andorinha. Foto: Lucarelli/Wiki Commons

 

Rita acredita que os participantes “até poderão encontrar espécies que ainda não estão registadas”.

No final, todos os dados dos dois bioblitzs  vão estar disponíveis na plataforma de registo de espécies, para todos os interessados e também investigadores. Os organizadores prometem também que vão divulgar os resultados no site, no Facebook e ainda na newsletter da BioDiversity4All.

 

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Saiba mais.

Consulte os programas detalhados do Bioblitz do Parque da Paz e do Bioblitz dos Olivais.

 

 

 

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.