A atribulada história desta gaivota acabou bem

Não se sabe bem como mas esta gaivota-de-patas-amarelas acabou por viajar de camião cerca de 100 quilómetros, do porto de Leixões a Oliveira de Frades, e levou meses a recuperar de uma doença. Há poucos dias foi avistada numa praia de Matosinhos, totalmente recuperada.

 

Esta história começa a 4 de Novembro do ano passado quando o Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente (SEPNA) da GNR de Viseu entregou a gaivota (Larus michahellis) ao CERVAS (Centro de Ecologia, Recuperação e Vigilância de Animais Selvagens), em Gouveia.

“A ave tinha sido encontrada dentro de um camião que tinha viajado desde o porto de Leixões até Oliveira de Frades, no distrito de Viseu”, fazendo cerca de cem quilómetros, segundo um comunicado do CERVAS.

 

 

Quando chegou ao centro, a gaivota “estava muito debilitada, com diarreia e incapaz de mover as asas e as patas, um síndrome parésico que tem sido detectado com cada vez maior frequência ao longo da costa portuguesa”, acrescenta.

Durante cinco meses, a gaivota esteve em recuperação, primeiro com terapia de suporte e alimentação forçada e depois com treino, musculação e socialização com uma gaivota-d’asa-escura (Larus fuscus) que também já foi devolvida à natureza.

 

 

 

A 30 de Março, a gaivota-de-patas-amarelas foi libertada junto ao rio Mondego, em Coimbra, por vigilantes da Natureza da Reserva Natural do Paul da Arzila.

Cerca de três semanas depois, a 23 de Abril, José Marques fotografou-a na praia de Matosinhos. Foi possível identificá-la graças à anilha preta F636. Para o CERVAS, isto “revela a grande capacidade de sobrevivência e de orientação desta espécie”.

 

Foto: José Marques
Foto: José Marques

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.