“A Ciência é crucial para salvar a vida selvagem”

A 22 de Abril, milhares de cientistas e activistas são esperados na Marcha pela Ciência, em Washington D.C, contra as políticas do Presidente norte-americano Donald Trump. A organização Wildlife Conservation Society (WCS) explica por que vai participar. “A Ciência é crucial para salvar a vida selvagem”, diz o seu presidente.

 

A ideia da marcha, contra os cortes orçamentais a projectos de investigação científica em inúmeras áreas previstos pela administração Trump, surgiu em Janeiro e hoje tem adeptos não só nos Estados Unidos mas em dezenas de outros países. Portugal é um deles, com a sua Marcha pela Ciência em Lisboa.

Ontem, o presidente da WCS, Cristian Samper, fez um apelo à participação de todos quantos se preocupam com o mundo selvagem. Na sua opinião, a Ciência “permite-nos compreender como conservar a vida selvagem e os lugares selvagens e medir o impacto do nosso trabalho para os salvar”.

A organização, com sede em Nova Iorque, lançou recentemente a petição “We stand for wildlife” para pedir à Casa Branca que faça o mesmo.

Samper lembrou que, através do trabalho de campo em quase 60 países, os peritos da WCS “marcham todos os dias pela Ciência”. Esta entidade tem como objectivo conservar lugares selvagens em 15 regiões prioritárias espalhadas pelo mundo, onde vivem mais de 50% da biodiversidade do planeta.

 

Cristian Samper (à esquerda) a investigar a morte de um elefante, às mãos de caçadores furtivos, em Moçambique. Foto: WCS

 

“Não poderíamos fazer o nosso trabalho sem a Ciência”, salienta Samper. “A Ciência tem sido o apoio do nosso trabalho ao longo de 122 anos de história, ajudando-nos a descobrir novas espécies, a evitar a extinção de outras, a recuperá-las, a criar áreas protegidas e a conceber políticas que ajudam a vida selvagem e as populações a viver juntas.”

Como exemplos de conservação no século passado, só possíveis por causa da Ciência, o responsável refere a moratória à caça comercial à baleia, o travar da extinção do bisonte americano e a criação do Refúgio Nacional do Árctico para a Vida Selvagem.

Mais recentemente, lembra o artigo científico publicado em 2016 na revista Nature Communications, onde uma equipa de cientistas revelou que três quartos do planeta já foram significativamente alterados pelo Homem.

“É por tudo isto que vou marchar em Washington D.C, com a minha família, os meus colegas da WCS por espalhados por todo o mundo e centenas de defensores da WCS. Juntos, vamos marchar em seis continentes.”

O grande objectivo da marcha é “celebrar a Ciência, não politizá-la”. Samper comenta ainda que “a Ciência está por detrás das boas e das más notícias sobre a vida selvagem mas não tem nada a ver com as falsas notícias”.

Este movimento pró-ciência espalhou-se a outros países, incluindo Portugal. Aqui, a Marcha pela Ciência vai acontecer às 14h00 no Largo de São Mamede, em Lisboa. Às 15h00 haverá um comício no Largo do Carmo e às 16h00 a Festa da Ciência em vários pontos do Chiado. “Marchamos em solidariedade com todos aqueles que valorizam a ciência em redor do mundo e em apoio aos países onde determinadas decisões políticas representam uma ameaça à comunidade científica e ao acesso à ciência”, explicam os organizadores do evento em Portugal. “Eventos recentes nos EUA, e noutras partes do globo, são uma ameaça à ciência, ao próprio conhecimento científico, e ao seu financiamento.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.