Abelhões estão a perder território

As alterações climáticas estão a encolher o território dos abelhões polinizadores que vivem na Europa e na América do Norte, revela um estudo publicado na revista Science. Estes insectos estão a desaparecer das zonas mais quentes, a Sul, e não estão a conseguir conquistar as zonas mais frias, a Norte.

 

Os 423.000 registos de observações de 67 espécies de abelhões feitos entre 1901 e 2010  disseram aos investigadores que algumas espécies recuaram 300 quilómetros a partir do limite Sul da sua distribuição em ambos os continentes, desde 1974. Em média, os abelhões perdem nove quilómetros de territórios por ano, segundo o estudo publicado a 9 de Julho.

A equipa de investigadores da Europa, Estados Unidos e Canadá não encontrou provas de que os culpados fossem pesticidas ou destruição do habitat, mas sim o aumento das temperaturas desde os anos 1970. Quando as temperaturas começaram a subir, estes insectos começaram a morrer nos limites mais a Sul, indicam os registos.

“Os abelhões estão a entrar em declínio muito rapidamente e as impressões digitais das alterações climáticas causadas pelos humanos estão por toda a parte”, disse Jeremy Kerr, da Universidade de Otava e coordenador do estudo, à agência Reuters. “E o que achámos mais incrível foi o facto de isso estar a acontecer ao mesmo ritmo tanto na Europa como na América do Norte”, acrescentou.

O forte declínio dos abelhões a uma escala continental ameaça a segurança alimentar e a viabilidade económica de algumas culturas agrícolas, alertam os cientistas. Os abelhões polinizam várias plantas que são fonte de alimento para pessoas e para a vida selvagem. “Os abelhões são polinizadores importantes de vários alimentos como as maçãs, abóboras e tomates”, exemplificou à Reuters Leif Richardson, biólogo da Universidade de Vermont.

O problema é que os abelhões estão a perder os seus limites mais a Sul, por causa do calor, e não estão a migrar para Norte para territórios com melhores condições de sobrevivência. “Não estão a conseguir colonizar novos espaços com temperaturas mais amenas a Norte. As alterações climáticas podem estar a tornar as coisas demasiado quentes para eles a Sul mas não estão a atraí-los para melhores condições a Norte como seria expectável”, disse Paul Galpern, da Universidade de Calgary.

As diferenças nas horas de luz ou na alimentação e o facto de os abelhões terem um crescimento populacional lento podem explicar a situação. Muitos abelhões formam pequenas colónias, explicou Kerr, o que limita a sua capacidade para se espalharem rapidamente. Uma espécie que foge a este cenário é o abelhão-terrestre (Bombus terrestris), uma das espécies mais comuns da Europa e que é conhecida pelo seu sucesso reprodutivo, que está a deslocar-se para Norte. Esta espécie “é um género de dente-de-leão no mundo dos abelhões”.

Kerr é da opinião que são necessárias medidas drásticas, nomeadamente algo chamado “migração assistida”, envolvendo uma relocalização a larga escala de populações de abelhões em novas áreas onde possam sobreviver. “A perda dos polinizadores é um sinal de que estamos a brincar com os sistemas que suportam a vida e sem os quais não podemos sobreviver. E isso é uma experiência que nunca deveríamos ter começado.”

“Os impactos são enormes e já estão a acontecer. Não são algo com o qual nos devemos preocupar num futuro vago e distante”, acrescentou à BBC.

As alterações climáticas estão a pressionar ainda mais espécies que já estão em esforço para sobreviver. “Estamos a combater estes animais com tudo o que temos. Não é possível dispararmos neonicotinóides, doenças e alterações climáticas sobre as abelhas e termos abelhas felizes”, disse Kerr, citado em comunicado da Science.

 

[divider type=”thin”]Agora é a sua vez.

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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.