O panda-vermelho foi uma das 39 espécies analisadas no estudo. Foto: Wiki Commons/Kuribo

Afinal, o tamanho do cérebro importa

Um grupo de investigadores norte-americanos decidiu fazer uma experiência com várias espécies de mamíferos carnívoros, para descobrirem se afinal o tamanho do cérebro está ou não relacionado com a inteligência.

 

No total, 140 animais de 39 espécies, alojados em vários zoos dos Estados Unidos, foram confrontados com um problema que tinham de resolver e que nunca tinham visto antes.

Cada um teve de descobrir sozinho o mecanismo para abrir uma caixa adequada ao seu tamanho, que tinha lá dentro os alimentos preferidos de cada espécie. O desafio era igual para todos.

Objectivo: “Perceber se medidas neuro-anatómicas ou sócio-ecológicas podem predizer o sucesso na resolução de um problema técnico entre espécies de mamíferos carnívoros”, descreve a equipa de cientistas, no artigo publicado pela revista PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America).

Sarah Benson-Amram, da Universidade do Wyoming, juntamente com cientistas das Universidade Estatal do Michigan e da Universidade do Minnesota, concluíram que “espécies com um cérebro grande relativamente ao tamanho do corpo tiveram mais sucesso na abertura das caixas”.

Num vídeo publicado ‘online’ pela PNAS, é possível comparar o comportamento de 19 dos animais que foram estudados.

 

 

[Por ordem, neste filme, surgem o panda-vermelho (Ailurus fulgens), binturong (Arctictis binturong), urso castanho (Ursus arctos), quati-de-nariz-branco (Nasua narica), lince-pardo (Lynx rufus), raposa-do-Ártico (Alopex lagopus), urso-polar (Ursus maritimus), urso negro (Ursus americanus), leopardo-das-neves (Panthera uncia), gato-de-pallas (Otocolobus manul), hiena-riscada (Hyaena hyaena), hiena-malhada (crocuta crocuta), texugo-americano (Taxidea taxus), leopardo (Panthera pardus), tigre-de-Amur (Panthera tigris), lontra-de-rio (Lontra canadensis), lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), cão-selvagem-africano (Lycaon pictus) e glutão (Gulo gulo).]

Muitos cientistas acreditam actualmente que o tamanho relativo do cérebro é importante para a capacidade de resolver problemas, mas poucos estudos experimentais tinham sido realizados.

Além do mais, dentro da biologia evolutiva, outros investigadores acreditam na teoria do “cérebro social”. Ou seja, defendem que a inteligência não está relacionada com o tamanho do cérebro, mas sim com as capacidades adquiridas pelos animais para gerirem as relações sociais, prevê-las e manipulá-las.

Sarah Benson-Amram responde que, no estudo agora realizado, “as variáveis socio-ecológicas, incluindo medições de complexidade social e habilidade manual, falharam na previsão de sucesso para a abertura das caixas”. Por outro lado, acrescenta, os resultados fornecem provas importantes sobre a influência do tamanho do cérebro.

Todos os animais estudados tinham 30 minutos para abrir a caixa, relata o El Pais. Os ursos foram os que tiveram mais sucesso. Já os suricatas e os mangustos foram os que se saíram pior. Do total de animais, 35% conseguiram resolver o problema dentro do prazo e ganhar a comida.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.