Oceanos. Foto: Mobibit/Pixabay

Áreas do oceano sem oxigénio quadruplicaram nos últimos 50 anos

Nos últimos 50 anos, a quantidade de água no oceano sem oxigénio aumentou mais de quatro vezes, pondo em perigo a vida selvagem marinha, revela uma equipa internacional de cientistas.

 

O problema da falta de oxigénio não se limita ao alto mar, antes pelo contrário. Nos corpos de água das zonas costeiras, como estuários, as zonas sem oxigénio aumentaram mais de dez vezes desde os anos 1950, concluiu uma equipa internacional de cientistas num artigo publicado a 4 de Janeiro na revista Science.

Os investigadores esperam que o oxigénio continue a diminuir mesmo fora dessas zonas, à medida que o planeta aquece.

 

 

Em relação às águas portuguesas, de um modo geral, “os níveis de oxigénio são superiores a 75% de saturação”, o que é indicativo de “boa oxigenação da água”, refere o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) respondendo a perguntas feitas pela Agência Lusa, citou hoje o site da RTP.

Ainda assim, “foram registados valores inferiores a este limite no estuário do Mondego e na Ria Formosa, em locais com baixa profundidade da coluna de água e no Verão com temperaturas elevadas”. Isto aconteceu em condições específicas de maré e de temperatura, as quais “não foram observadas durante longos períodos de tempo”, mas podem “ter implicações na qualidade da água e na vida aquática”.

Na verdade, “o oxigénio é fundamental para a vida nos oceanos”, explica Denise Breitburg, principal autora do estudo e ecologista marinha no Centro de Investigação Ambiental Smithsonian. “O declínio do oxigénio no oceano está entre os mais graves impactos das actividades humanas no ambiente da Terra.”

O estudo em causa foi feito por uma equipa de cientistas da rede GO2NE (Global Ocean Oxygen Network), criada em 2016 pela Comissão Intergovernamental Oceanografica da Unesco. É o primeiro a olhar para as causas, consequências e soluções para a perda de oxigénio nos oceanos e nas águas costeiras.

“Cerca de metade do oxigénio da Terra vem do oceano”, diz Vladimir Ryabinin, secretário-executivo daquela Comissão. Contudo, “estão a aumentar o número e a dimensão das ‘zonas mortas’ no oceano e nas águas costeiras, onde o oxigénio é demasiado baixo para suportar a maioria da vida marinha”.

Nas áreas conhecidas como “zonas mortas”, como a de Chesapeake Bay no Golfo do México, o oxigénio caiu para níveis tão baixos que muitos animais sufocam e acabam por morrer. Como os peixes evitam essas zonas, os seus habitats ficam mais pequenos e eles tornam-se mais vulneráveis a predadores e à pesca.

Mas o problema vai além das “zonas mortas”, salientam os autores do artigo. Mesmo pequenos declínios de oxigénio podem limitar o crescimento nos animais, condicionar a reprodução e causar doenças e morte. Também pode accionar a libertação de químicos perigosos como o óxido nitroso, um gás com efeito de estufa até 300 vezes mais poderoso do que o dióxido de carbono.

 

Cientistas sugerem o que pode ser feito

Para travar o declínio, o mundo precisa de combater as alterações climáticas e a poluição por nutrientes, defendem os investigadores.

Segundo os investigadores, as alterações climáticas são o principal culpado. As águas à superfície aquecem e tornam mais difícil o oxigénio chegar ao interior do oceano. Além disso, à medida que o oceano como um todo aquece, retém menos oxigénio. Nas águas costeiras, o excesso de poluição por nutrientes, vindos de fontes terrestres, cria explosões de algas que esgotam o oxigénio ao morrerem e entrarem em decomposição.

As pessoas também estão ameaçadas. A pesca artesanal e o turismo que depende dos recifes de coral são alguns dos grupos referidos no artigo.

Para resolver este problema, os cientistas defendem melhores sistemas de tratamento de águas residuais, redução da emissão de combustíveis fósseis e protecção da vida marinha mais vulnerável. Para a equipa da GO2NE, isto poderá traduzir-se na criação de áreas marinhas protegidas ou de zonas onde a pesca é proibida.

“Combater as alterações climáticas pode parecer uma tarefa gigantesca mas fazê-lo é crucial para travar a redução de oxigénio nos nossos oceanos e para quase todos os aspectos da vida no nosso planeta”, disse Breitburg.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.