Aves das Galápagos alimentam-se mais de flores para compensar falta de insectos

As aves terrestres das ilhas Galápagos incluem na sua dieta o pólen e o néctar de mais de 100 espécies de flores para compensar a escassez de insectos que caracteriza as ilhas oceânicas, conclui um estudo internacional publicado na revista “Nature Communications”.

“A baixa diversidade de insectos nas ilhas faz com que os vertebrados insectívoros e consumidores de sementes ampliem a sua dieta, incluindo o pólen e o néctar das flores”, comenta Anna Traveset, uma das autoras do estudo e investigadora do espanhol Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC), no Instituto Mediterrâneo de Estudos Avançados. “Com os dados de que dispomos, podemos afirmar que as flores são muito mais importantes para a dieta das aves nas ilhas do que no seu continente de origem”, acrescenta, num comunicado do CSIC, entidade coordenadora do estudo.

E os benefícios são mútuos. “As plantas aumentam a sua polinização das ilhas e as aves têm uma fonte de alimento crucial para a sua sobrevivência”.

 

Indivíduo da espécie Geospiza fuliginosa. Fotografia: CSIC
Indivíduo da espécie Geospiza fuliginosa. Fotografia: CSIC

 

Até agora sabia-se que esta interacção era comum entre algumas espécies, mas este novo trabalho constata que é um comportamento generalizado da comunidade de aves terrestres do arquipélago. “Todas as 19 espécies de aves capturadas – apenas quatro espécies das ilhas não foram incluídas no estudo devido à sua raridade – interagiram com mais de cem espécies de flores”, explica Traveset.

A investigadora acrescenta que foi muito surpreendente constatar que a maioria dos tentilhões endémicos das Galápagos (os tentilhões de Darwin), assim como outras aves comuns do arquipélago, visitam uma tão grande variedade de flores.

Ainda assim, esta relação representa um risco para a biodiversidade do arquipélago. As aves que se alimentam de plantas exóticas invasoras estão a facilitar a sua introdução nas comunidades pristinas das Galápagos. As invasões biológicas são hoje o principal motor das alterações globais nas ilhas, ecossistemas frágeis por causa da sua menor complexidade, quando comparados com os continentais.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.