Cidadãos de todo o mundo juntam-se para plantar a Trump Forest

Uma mulher em Paris que doou 500 árvores e um homem em São Mamede de Infesta que doou outras 235 são apenas dois dos 730 cidadãos que já aderiram à campanha Trump Forest. A ideia foi lançada em Março por três pessoas para compensar a “ignorância” climática do Presidente norte-americano Donald Trump.

 

“Desde que assumiu funções temos visto Trump a desferir golpes atrás de golpes a iniciativas que querem abrandar as alterações climáticas”, desabafou, em comunicado, Daniel Price, glaciologista e co-fundador da iniciativa Trump Forest, sediada na Nova Zelândia. “Trump declarou guerra a um clima saudável para a vida na Terra, por isso estamos a responder com um exército de árvores.”

O Presidente norte-americano decidiu abandonar o Acordo de Paris para travar as alterações climáticas, alegando que o faz para defender a economia e os postos de trabalho nos Estados Unidos. “Conhecemos algumas pessoas que estão na linha da frente das alterações climáticas no Bangladesh, na Mongólia e em outros países e sentimo-nos profundamente frustrados com o facto de a ignorância do Sr. Trump ser tão profunda”, comentou Adrien Taylor, outro dos co-fundadores da Trump Forest, citado pela BBC News.

 

Adrien Taylor, Daniel Price e Jeff Willis (da esquerda para a direita). Foto: Trump Forest

 

“Por isso, começámos a fazer alguma coisa. Apenas uma pequena percentagem do mundo votou nele, mas todos temos de lidar com as consequências da sua ignorância climática.”

Desde que foi lançada em Março, esta campanha já conseguiu mais de 199.400 árvores doadas em todo o mundo, num valor total de 26.554 dólares (22.601 euros). “O apoio global dos cidadãos tem sido extraordinário”, comentou Taylor.

O grande objectivo deste esforço global colectivo é “motivar e inspirar as pessoas a plantarem e a cuidarem de árvores numa luta contra a ignorância climática promovida pelo Presidente Donald Trump”.

A organização, que não recebe dinheiro, diz que há duas formas de qualquer pessoa ajudar. Pode comprar e plantar a sua árvore onde quiser ou pode pagar a plantação em projectos de restauro ecológico a acontecer em Madagáscar, Haiti, Etiópia e Nepal, pela organização The Eden Reforestation Projects. A única condição é enviar o recibo de compra das árvores para os organizadores da campanha para lhe agradecerem e porem a sua contribuição no mapa.

A campanha arrancou com a contribuição inicial de 1.000 árvores nativas da Nova Zelândia, por uma empresa, a Offcut. Portugal tem uma contribuição de um cidadão de São Mamede de Infesta que duoou 235 árvores para ajudar a The Eden Reforestation Projects a recuperar os mangais de Madagáscar.

“Lançámos a Trump Forest porque nos sentimos impotentes quanto à ignorância de Trump. Precisávamos de uma forma de agir para compensar as emissões extra desta administração”, acrescentou Taylor, salientando que esta iniciativa é “completamente apolítica”.

E há muito trabalho a fazer. A equipa desta campanha calculou que o planeta precisa de plantar uma nova floresta do tamanho do estado norte-americano do Kentucky para compensar as emissões de dióxido de carbono extra que serão emitidas pela administração Trump. Os organizadores estimam que vão precisar de compensar 650 megatoneladas de CO2 equivale até 2025, o que se traduz em mais de 100 mil milhões de novas árvores. Apesar da enorme escala, os organizadores acreditam que é fazível.

“Já temos tido a ajuda dos cidadãos um pouco por todo o mundo, agora chegou a altura de as empresas se juntarem para ajudarem a Trump Forest a crescer”, acrescentou.

E porquê chamar-se “Trump Forest”? “Queremos que ele goste da floresta, é a sua floresta, afinal de contas. Adoraríamos se ele twitasse sobre ela”, disse Taylor à BBC News. “Só estamos a tentar resolver o problema que ele criou e a fazer o seu trabalho”, disse Price.

 

[divider type=”thick”]Leia aqui a entrevista que fizemos a Jeff Willis, um dos fundadores da Trump Forest.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.