Cientistas acreditam ter boas notícias para morcegos da América do Norte

O síndrome-do-nariz-branco é uma doença que está a dizimar milhões de morcegos na América do Norte e que continua a espalhar-se. Um novo estudo científico acredita que, pelo menos, algumas espécies podem desenvolver resistência a esta doença devastadora.

 

 

O síndrome-do-nariz-branco é o nome dado à doença dos morcegos causada pela exposição ao fungo Pseudogymnoascus destructans, que prospera nas grutas frias e húmidas frequentadas pelos morcegos. O fungo invade a pele destes animais e causa as características marcas brancas no focinho e nas asas. Ele faz com que os morcegos acordem da hibernação mais cedo do que o habitual, obrigando-os a gastarem as suas reservas de gordura. Muitos morrem de fome ou de frio.

O fungo é endémico da Ásia e Europa, por isso aqui os morcegos têm coexistido com ele por mais tempo. A doença só recentemente invadiu a América do Norte, em 2006, transportada por humanos. Desde então já morreram cerca de seis milhões de morcegos.

Agora, num estudo publicado a 9 de Março na revista Proceeding of the Royal Society B, uma equipa internacional de cientistas diz que algumas espécies americanas podem desenvolver a capacidade para combater a doença.

Os investigadores recolheram amostras junto de morcegos em hibernação em cinco locais na China e em cinco locais nos Estados Unidos, para detectar e quantificar a quantidade de fungos em cada morcego. “Em todas as espécies que estudámos na China, encontrámos níveis de infecção muito mais baixos do que nas da América do Norte”, disse Joseph Hoyt, autor do estudo e investigador da Universidade da Califórnia (Santa Cruz), em comunicado. “Tanto a fracção dos morcegos infectados como a quantidade de fungo nos morcegos infectados eram mais baixas do que na América do Norte”, acrescentou.

Os cientistas estudaram quatro razões possíveis para explicar por que razão os morcegos asiáticos não são tão afectados pelo fungo. Estas incluem a tolerância do hospedeiro, resistência do hospedeiro, baixa transmissão devido ao tamanho das populações ser mais reduzido ou o menor crescimento do fungo devido a factores ambientais. Os investigadores concluíram que o factor crucial é a resistência do hospedeiro e que as outras não se verificam.

“Este é o primeiro estudo a comparar as dinâmicas da doença numa região endémica e numa região que está a ser invadida. Os resultados podem ajudar-nos a compreender o curso que o fungo poderá tomar na América do Norte”, disse Hoyt.

E há um sinal de esperança para os morcegos americanos. Por exemplo, dentro da espécie morcego-pequeno-castanho há animais com níveis de infecção maiores e outros com níveis menores. Se esta variação for um resultado de diferenças genéticas, isso poderá levar ao desenvolvimento de resistência naquela espécie.

Quanto aos mecanismos de resistência dos morcegos asiáticos ainda há muito por descobrir. “Não tem necessariamente de haver uma única estratégia para todas as espécies. Podem ser diferenças no microbioma da pele numa e os comportamentos de hibernação em outra. Ainda não temos essa informação”, disse Kate Langwig, co-autora e investigadora na Universidade de Harvard.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.