Fêmea de leão-africano. Foto: Stig Nygaard/Wiki Commons

Cientistas alertam que já vivemos uma Sexta Extinção em massa

Chamam-lhe uma “aniquilação biológica” da vida selvagem e já dura há algumas décadas. Esta equipa de cientistas que confirmou a Sexta Extinção em massa a nível mundial alerta que esta crise é mais grave do que se temia e que a sobrevivência da civilização humana está em risco.

 

Cientistas da Universidade Nacional Autónoma do México e da Universidade de Stanford descobriram que milhares de milhões de populações locais ou regionais de espécies de mamíferos, aves, répteis e anfíbios, tanto comuns como raras, já desapareceram da face do planeta.

Num artigo publicado ontem na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), estes investigadores alertam que esta “aniquilação biológica” representa um “assustador assalto aos pilares da civilização humana”.

Estudos anteriores já tinham mostrado que a extinção das espécies está a acontecer a um ritmo significativamente mais rápido do que o que acontecia há milhões de anos atrás.

Este novo estudo avaliou não apenas as extinções mas a perda de populações de muitas espécies comuns em todo o mundo; apesar de continuarem a existir, estes animais e plantas estão a perder território.

Ao todo foi mapeada a distribuição geográfica de 27.500 espécies de vertebrados terrestres, representando metade dos vertebrados terrestres conhecidos. Um terço tem vindo a perder territórios. “Costumávamos ter andorinhas a fazer ninho perto da minha casa perto da Cidade do México, mas nos últimos 10 anos não temos visto nenhuma”, disse Gerardo Ceballos, da Universidade Nacional Autónoma do México e co-autor do estudo, citado pelo jornal The Guardian.

De acordo com estes investigadores, quase metade das 177 espécies de mamíferos terrestres avaliadas perderam 80% da sua área de distribuição entre 1900 e 2015.

Os mapas deste estudo mostram também que até 50% do número de animais que viveram na Terra já desapareceram, especialmente nas regiões tropicais e temperadas. Os grandes mamíferos do Sudeste Asiático são o grupo de animais que perderam a maior percentagem de território.

“A aniquilação biológica terá graves consequências ecológicas, económicas e sociais”, escrevem os investigadores. “A Humanidade irá, eventualmente, pagar um preço muito elevado.” Os cientistas lembram que esta crise implica a perda de serviços cruciais oferecidos pelos ecossistemas, como a polinização feita pelos insectos ao controlo natural de pesticidas ou à purificação da água. Além disso, altera as redes ecológicas das quais beneficiam todos os seres vivos, causando um efeito em cascata.

Os investigadores explicam esta crise com a destruição dos habitats, a sobre-caça, poluição, invasão de espécies exóticas e as alterações climáticas. Mas, em última análise, a causa é “da sobre-população humana e do continuado crescimento populacional e do excesso de consumo, especialmente pelos ricos”.

E acrescentam que a janela de oportunidade para fazer alguma coisa é pequena. “Todos os sinais apontam para assaltos cada vez mais graves à biodiversidade nas próximas duas décadas, pintando um cenário sombrio para o futuro da vida, incluindo a do Homem.”

Stuart Pimm, da Universidade norte-americana de Duke e que não fez parte deste estudo, disse ao The Guardian que, no geral, as conclusões da investigação estão correctas. Ainda assim, não concorda que estejamos já a viver uma Sexta Extinção em massa. “É algo que ainda não aconteceu, estamos à beira de isso acontecer.”

As outras Extinções em massa aconteceram há 443 milhões de anos, há 360 milhões de anos, há 250 milhões de anos, há 200 milhões de anos e há 65 milhões de anos.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.