Cientistas brasileiros descobrem seis novas espécies de papa-formigas

Até agora pensava-se que o papa-formigas pigmeu Cyclopes didactylus, que vive nas florestas tropicais da Amazónia e América Central, era apenas uma espécie. Cientistas brasileiros descobriram agora que, afinal, são sete espécies diferentes.

 

O novo estudo, publicado recentemente na revista Zoological Journal of the Linnean Society, combina dados genéticos e anatómicos para rever a classificação taxonómica destes pequenos papa-formigas.

A equipa de investigadores, coordenados por Flávia Miranda, analisou 33 amostras de ADN e mais de 280 espécimes deste raro mamífero, guardados em museus de todo o mundo.

Os cientistas descobriram que o que até agora era considerado ser uma única espécie, Cyclopes didactylus, é, na verdade, geneticamente muito mais diverso. Pelo menos são sete espécies diferentes.

Além do Cyclopes didactylus, o papa-formigas-pigmeu comum, os cientistas revalidaram três espécies: o Cyclopes ida, encontrado a Norte do rio Amazonas e na margem esquerda do rio Negro; o Cyclopes dorsalis, da América Central e costa do Pacífico da América do Sul; e o Cyclopes catellus, da região de Yungas, na Bolívia.

Além destas, outras três espécies foram descritas como novas para a Ciência: Cyclopes thomasi, em honra de Oldfield Thomas, um naturalista britânico que ajudou a conhecer os papa-formigas no passado; Cyclopes xinguensis, do rio Xingu (no Brasil); e Cyclopes rufus, da Rondónia (Brasil).

Os papa-formigas pigmeus são pequenos animais nocturnos que vivem na copa das árvores em florestas tropicais. Estão entre os papa-formigas menos estudados.

“Passámos muitos meses, durante 19 expedições na América do Sul, nos últimos 10 anos, à procura do pequeno papa-formiga”, comentou Flávia Miranda, em comunicado. Um intenso trabalho de museu e laboratório também ajudou à descoberta destas novas espécies.

“Há quatro anos descrevemos uma nova espécie de tapir da Amazónia brasileira. Agora temos seis novas espécies de papa-formigas pigmeu. Provavelmente existem mais espécies novas à espera de serem descritas nos museus e na natureza. Mas podem extinguir-se antes de as conseguirmos conhecer”, comentou Fabrício Santos, especialista em genética e um dos co-autores do estudo.

Por enquanto ainda não se conhece qual o estatuto de conservação destas novas espécies agora descritas. “Apesar de os papa-formigas pigmeus terem uma distribuição generalizada na região da Amazónia, muitas das novas espécies podem estar sob profundas ameaças da desflorestação, exploração mineira e agricultura”, alertou Flávia Miranda.

Esta investigadora é a coordenadora da organização não-governamental Projeto Tamanduá que, desde 2005, trabalha para a conservação de papa-formigas, tatus e preguiças.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.