Cientistas impressionados com declínio de aves no Gana

O abate das florestas no Gana, um dos 25 “hotspots” de biodiversidade do planeta, fez desaparecer metade do número das aves tropicais que vivem abaixo das copas das árvores em apenas 15 anos, revela um novo estudo. Os resultados chocaram os investigadores.

 

Até agora, o impacto do abate ilegal de florestas na vida selvagem tropical ainda estava por quantificar. Um novo estudo publicado agora na revista Biological Conservation revela o que o corte das árvores está fazer às populações de aves que vivem no sub-bosque, abaixo da copa das árvores, nas florestas do Gana.

Segundo os investigadores, entre 1995 e 2010, o ritmo do abate da floresta aumentou mais de 600%, ou seja, seis vezes mais do que o nível máximo considerado sustentável. Os cientistas também descobriram que a abundância das espécies de aves do sub-bosque declinou mais de 50% durante esse período. As populações de aves não estão a dar mostras de recuperarem.

“Os números não mentem e não têm uma agenda política. Estes números são chocantes”, diz Nicole Arcilla, a principal autora do estudo e investigadora do Colégio das Artes e Ciências de Drexel. “A nossa descoberta mais perturbadora é que mais de metade de todas as aves que vivem abaixo da copa das árvores desapareceu em apenas 15 anos”, acrescentou. “Se as coisas continuarem como estão, em poucas décadas, estas florestas incrivelmente bonitas e a sua vida selvagem única vão ficar muito vazias, o que seria uma enorme perda para o Gana, para África e para o mundo.”

 

Esta espécie de guarda-rios (Alcedo leucogaster) foi uma das poucas que não registaram declínios

 

Arcilla passou quase dois anos no Gana a armadilhar e identificar as aves para estudar o impacto do abate das florestas. A equipa de investigadores estudou as aves de 2008 a 2010 e comparou os dados do trabalho de campo com outros recolhidos na mesma área entre 1993 e 1995, quando o corte ilegal de árvores não era tão preponderante. Hoje, 80% da madeira do Gana é oriunda de abates ilegais.

Por exemplo, a ave canora Phyllastrephus icterinus registou um declínio de 90% e a Eurillas latirostris, 73%.

“O abate de árvores, associado a outras perturbações nas florestas do Gana, está a afectar toda a avifauna”, disse Arcilla. “As espécies que já eram raras são agora muito mais vulneráveis à extinção local e muitas espécies comuns já o deixaram de ser.”

Mas, apesar de a situação ser grave, ainda há esperança, dizem os investigadores. “Há um enorme potencial para regenerar as florestas cortadas para a conservação das aves”, revela o estudo. Para isso serão necessárias medidas urgentes para proteger os fragmentos de floresta que restaram, incluindo um maior controlo aos abates ilegais. “As soluções são complexas e socialmente complicadas, mas o problema tem solução se houver motivação e interesse”, acredita Arcilla.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.