Leopardo-das-neves. Foto: Pixabay
Leopardo-das-neves. Foto: Pixabay

Cimeira trará novidades sobre a conservação do leopardo-das-neves

Até ao final desta semana, responsáveis de 12 países estão reunidos no Quirguistão para encontrar novas formas para conservar o leopardo-das-neves (Panthera uncia). O elefante na loja de porcelana é a falta de acordo entre os cientistas sobre se esta continua, ou não, a ser uma espécie ameaçada.

 

O futuro do leopardo-das-neves está a ser debatido de 23 a 25 de Agosto na Cimeira Internacional do Leopardo-das-neves, a decorrer em Bishkek, no Quirguistão. Nela participam líderes do Afeganistão, Butão, China, Índia, Cazaquistão, Quirguistão, Mongólia, Nepal, Paquistão, Rússia, Tajiquistão e Uzbequistão.

Da última vez que os 12 países onde ocorre esta espécie se reuniram, em 2013, ficou decidida a conservação de 20 territórios de leopardo até 2020. Mas, a três anos do fim deste período, apenas existem 4.000 animais em estado selvagem e o seu habitat continua a diminuir, alertou a organização WWF num comunicado publicado na terça-feira.

Para pressionar a uma maior acção, várias organizações lançaram uma petição mundial que foi apoiada por 202.349 pessoas, incluindo o actor Leonardo DiCaprio e a actriz Megan Fox.

“Com a participação de responsáveis governamentais de alto nível, esta cimeira é uma oportunidade rara e única de responder a duas das maiores ameaças ao leopardo-das-neves e ao seu habitat; as alterações climáticas e o desenvolvimento insustentável de infra-estruturas”, segundo a WWF. A organização citou estudos científicos para alertar que nos próximos 50 anos esta espécie pode perder mais de dois terços do seu habitat. Além disso, estima-se que 450 leopardos sejam caçados ilegalmente todos os anos.

“Os próximos tempos vão empurrar ainda mais esta espécie para o limiar da extinção.”

Mas será mesmo assim? Hoje, a BBC News noticiou que a comunidade científica está profundamente dividida sobre se estes leopardos são ainda uma espécie ameaçada. As diferenças de opinião intensificaram-se porque é esperada para breve uma mudança do estatuto de ameaça da espécie na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), de Em Perigo para apenas Vulnerável.

Alguns especialistas dizem que as populações estabilizaram e que aumentaram em alguns locais. “Peritos nos países onde vivem estes leopardos estimam que a população total esteja entre os 7.400 e os 8.000 animais”, disse à BBC Tom McCarthy, director do programa desta espécie na organização Panthera.

Outros argumentam que não há estudos científicos que provem a estabilização das populações. “Para essa conclusão, menos de 2% do território do leopardo-das-neves foi monitorizado com técnicas científicas aceitáveis, como foto-armadilhagem e estudos genéticos”, disse Guillaume Chapron, da Universidade sueca de Ciências Agrícolas. “E esses 2% foram monitorizados porque havia uma expectativa a priori de que aquele seria um bom habitat para o leopardo. Isto não é um modo de pensar adequado”.

No meio da polémica, McCarthy lembrou: “os leopardos-das-neves ainda estão muito, muito ameaçados de extinção. Não podemos abandonar os nossos esforços de conservação”.

Os conservacionistas dizem que a espécie é ameaçada pela caça furtiva, perseguição por agricultores, declínio de presas, perda de habitat e alterações climáticas.

“Perder esta espécie vai implicar uma perda trágica de vida selvagem, devido a actividades humanas, e vai ter efeitos catastróficos, em cascata, sobre o dia-a-dia das comunidades locais”, acrescenta a WWF.

A Declaração de Bishkek será assinada pelos 12 países no final da cimeira.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.