Bióloga descobre cinco novas espécies em Portugal

Cinco novas espécies de pseudo-escorpiões, pequenos animais da classe dos aracnídeos, foram descobertas em grutas do Algarve, Alentejo, Penela e Leiria pela bióloga e espeleóloga Ana Sofia Reboleira, foi ontem revelado.

 

Estes animais também são chamados falsos-escorpiões porque são muito parecidos aos escorpiões, apesar de não terem o ferrão e um longo abdómen.

As cinco novas espécies para Portugal foram anunciadas num artigo científico publicado em Abril na revista Journal of Arachnology, um trabalho de Ana Sofia Reboleira em colaboração com o investigador Juan Zaragoza da Universidade de Alicante.

Uma das novas espécies é a Occidenchthonius goncalvesi e foi encontrada em grutas do maciço calcário do Algarve.

 

 

“Esta nova espécie, que tem cerca de dois milímetros de comprimento, é um organismo troglóbio, que significa que está adaptado à vida nas grutas, é despigmentado e carece de estruturas oculares, uma vez que vive num ambiente onde a obscuridade é total”, descreveu a bióloga, em comunicado. “É também uma espécie endémica, tem uma distribuição geográfica muito reduzida e só vive em grutas do maciço calcário do Algarve.”

O nome da espécie é uma homenagem a Fernando Gonçalves, professor do Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro (UA) que orientou a bióloga durante o Mestrado em Ecologia, Biodiversidade e Gestão de Ecossistemas e o Doutoramento em Biologia.

Mas Ana Sofia Reboleira – professora associada na Universidade de Copenhaga e coordenadora de um laboratório dedicado ao estudo da Biologia Subterrânea no Museu de História Natural da Dinamarca – descobriu mais espécies.

 

 

As outras espécies que a bióloga dá a conhecer à Ciência pela primeira vez são a Occidenchthonius alandroalensis, descoberta numa gruta no Alandroal (Alentejo); a Occidenchthonius algharbicus, descoberta numa gruta do Cerro da Cabeça (Algarve); a Occidenchthonius duecensis, no sistema espeleológico do Dueça, em Penela; e a Occidenchthonius vachoni no maciço calcário de Sicó, em Leiria.

Estas quatro espécies são muito parecidas e pertencem todas ao mesmo género. “A diferenciação entre estas quatro espécies encontra-se a nível do padrão da distribuição das sedas, que são as estruturas sensitivas do organismo e das estruturas reprodutoras, bem como as proporções relativas das diferentes partes corporais e a presença de estruturas especializadas”, explicou Ana Sofia Reboleira, bióloga que se mantém como colaboradora do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) da UA.

Com estas descobertas aumentam para 49 as novas espécies descritas ao longo da última década pela espeleóloga e investigadora.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Descubra mais aqui sobre o trabalho desta bióloga especializada no mundo subterrâneo, desta vez sobre os bichos-de-conta.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.