Cofre-Forte de Svalbard já tem um milhão de sementes diferentes

O Cofre-Forte de Sementes mundial de Svalbard, na Noruega, recebeu um carregamento com mais de 70.000 variedades nesta segunda-feira, dia em que fez 10 anos. No total, guarda agora um milhão de sementes, protegidas em nome do sustento alimentar da Humanidade.

Protegidas dentro de uma montanha gelada no arquipélago de Svalbard, estas instalações futuristas recebem, desde 2008, duplicados de sementes de arroz, trigo e milho, por exemplo, vindos de todo o mundo. O seu objectivo é conseguir proteger o maior número de espécies cultiváveis úteis de possíveis calamidades.

Na segunda-feira receberam o mais recente carregamento, com 76.330 variedades de sementes de arroz, trigo, milho, ervilhas e millet, por exemplo, em 179 caixas. E outras culturas menos conhecidas, como variedades de feijões únicas nos países do Leste Europeu. Estas sementes vieram de 23 instituições de todo o mundo.

“O Cofre-Forte de Sementes de Svalbard é um ícone que nos recorda que a cada dia são feitos esforços de conservação admiráveis, por todo o mundo e a toda a hora, num esforço para conservar as sementes das nossas espécies cultiváveis”, disse em comunicado Marie Haga, directora-executiva do Crop Trust, entidade responsável pelo cofre. “Salvaguardar uma tão grande diversidade de sementes significa que os cientistas terão mais hipóteses de desenvolver culturas nutritivas e resilientes ao clima” para as futuras gerações, acrescentou.

Foi em Fevereiro de 2008 que o Cofre-Forte abriu as suas portas como um backup para os bancos mundiais de sementes. No primeiro ano recebeu depósitos de mais de 300.000 variedades diferentes de sementes e, desde então, tem recebido mais várias vezes por ano. As sementes chegam de todo o lado, desde a Alemanha, Austrália, Burundi, Colômbia à Índia, Japão, Coreia do Norte, Rússia e Estados Unidos, por exemplo. E de Portugal, que tem guardadas em Svalbard 987.720 sementes de 352 taxa.

“Chegará o momento em que a agricultura enfrentará vários desafios, desde o clima extremo às necessidades de uma população mundial de 10 mil milhões em 2050”, lembrou Jon Georg Dale, ministro da Agricultura no Governo norueguês, que também gere o Cofre-Forte, além do Nordic Genetic Resource Center (NordGen). “Por isso é cada vez mais importante garantir que as sementes, a fundação da nossa segurança alimentar e do futuro da agricultura, estão conservadas em segurança.”

Nos 10 anos de história do Cofre-Forte só houve uma instituição que retirou de lá sementes: o ICARDA (International Center for Agricultural Research in the Dry Areas). O seu próprio banco de sementes, na Síria, deixou de conseguir funcionar por causa dos conflitos e da guerra. Em 2015 e 2017, o ICARDA pediu de volta alguns dos seus depósitos de trigo, lentilhas e outras variedades para restabelecer a sua investigação e conservação no Líbano e em Marrocos. Desde então conseguiu duplicar e devolver centenas dessas variedades a Svalbard.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.