Foto: Joana Bourgard

Conheça os compromissos mundiais pela natureza para os próximos anos

O fim do comércio de marfim, o aumento da área marinha protegida e mais natureza nas escolas são apenas três das mais de 100 moções aprovadas no congresso da União Internacional da Conservação da Natureza (UICN), que terminou no sábado no Havai e onde participaram mais de 10.000 pessoas.

 

A mais importante instituição de conservação no planeta, a UICN reuniu de 1 a 10 de Setembro mais de 10.000 pessoas e líderes mundiais de 192 países para decidir quais as prioridades da agenda mundial da natureza para os próximos anos. O documento final, “Navigating Island Earth”, lista alguns dos maiores problemas da conservação da natureza – como a saúde dos oceanos, o tráfico de espécies selvagens e as alterações climáticas – mas também soluções para os resolver.

“Algumas das maiores mentes do planeta e alguns dos profissionais mais dedicados reuniram-se no Congresso da UICN para decidir quais as acções mais urgentes para garantir a sobrevivência a longo prazo da vida na Terra e a capacidade do planeta para nos sustentar”, disse Inger Andersen, directora-geral da UICN, em comunicado.

Durante o congresso foi aprovado o novo programa de trabalhos da UICN para os próximos quatro anos e foi eleita uma nova direcção para a organização, entidade que terá o próximo congresso em 2020. Além disso, os cerca de 1.300 membros da UICN aprovaram mais de 100 moções. Estas são algumas delas:

 

Evitar a electrocussão e colisão de aves em linhas eléctricas: os Governos e companhias eléctricas devem evitar zonas sensíveis para a natureza, minimizar impactos e monitorizar os danos nas aves, especialmente nas migradoras.

 

Encerrar mercados nacionais de marfim: os países com comércio nacional de marfim são aconselhados a encerrá-lo com carácter de urgência. A UICN sugere que se aproveite a Conferência das Partes (COP17) da CITES, a realizar este mês em Joanesburgo, na África do Sul, para enviar “uma mensagem clara de que os elefantes são protegidos em todo o mundo e que, face à caça furtiva extensiva, a compra de marfim é prejudicial e inaceitável”.

 

Combater os venenos ilegais que matam a vida selvagem: foi aprovado um compromisso para realizar a análise da situação mundial sobre o impacto dos venenos na fauna – desde a fauna africana, às aves migradoras – e a identificação de prioridades sobre espécies ameaçadas, tipos de veneno e regiões do planeta. O uso de iscos envenenados nas zonas rurais da União Europeia foi um dos casos citados.

 

Adoptar medidas de conservação dos abutres: o congresso aprovou esta moção, nomeadamente no que diz respeito à proibição do uso veterinário de diclofenaco, substância que tem vindo a causar a morte a milhares de abutres. A moção desafia ainda os Governos a reconhecerem o papel destas aves na manutenção de ecossistemas saudáveis e a agirem para conservar as suas populações.

 

Reconhecer a dimensão urbana da conservação: num mundo cada vez mais urbanizado, a natureza nas cidades tem uma importância crescente. Nesse sentido, o congresso desafia a cooperação entre agências de conservação, museus, zoos, jardins botânicos e outras instituições semelhantes a apresentar o património natural regional aos cidadãos através de envolvimento das comunidades, ciência cidadã e acções de sensibilização.

 

Reconhecer áreas protegidas como soluções naturais para as alterações climáticas: estas áreas devem ser reconhecidas como parte da solução para resolver o problema das alterações climáticas, pois funcionam como ferramentas de mitigação e adaptação, e devem ser incluídas nos planos nacionais climáticos. Outra das moções insta os Governos recuperarem ecossistemas degradados e outra ainda a reconhecerem o papel importante dos oceanos e as zonas costeiras como sumidouros de carbono naturais.

 

Aumentar a extensão das áreas marinhas protegidas: esta moção desafia os Governos a designarem, pelo menos, 30% das águas na sua jurisdição como área marinha protegida até 2030 e a colaborar na protecção das áreas fora da sua jurisdição nacional.

 

Mitigar os impactos da expansão do óleo de palma: a moção pede uma análise das implicações para a biodiversidade desta cultura e propõe a criação de um grupo de trabalho para avançar formas de mitigar esses efeitos. Além disso, pede aos Governos que actuem para que zonas importantes de conservação sejam poupadas à expansão do óleo de palma.

 

Trabalhar o problema do uso de chumbo nas armas de caça: Os Governos são incentivados a reconhecerem o problema, a tentarem implementar alternativas e a sensibilizar os agentes interessados no tema.

 

Naturalizar os espaços nos centros educativos para aproximar as crianças da natureza: Os países são desafiados a usarem todos os meios necessários para tornar o ambiente do dia-a-dia das crianças, especialmente as escolas, o mais natural possível para que se promova a aproximação à natureza, em especial nas cidades.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais sobre o congresso aqui.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.