Quebra-ossos. Foto: Francesco Veronesi/Wiki Commons

Conservação de quebra-ossos confirma o primeiro ovo da temporada reprodutora

O projecto andaluz de conservação dos quebra-ossos, o abutre mais ameaçado da Europa, confirmou o primeiro ovo da temporada de reprodução, pelo casal Joseph e Keno. No ano passado, o Centro de Reprodução em Cativeiro de Guadalentín (Jaén) conseguiu 14 ovos, dos quais sobreviveram nove crias.

 

O quebra-ossos (Gypaetus barbatus) é uma ave de barbas escuras perto do bico e vermelho vivo em redor dos olhos. Houve tempos em que era comum em Portugal, mas acabou por desaparecer. Assim como na Andaluzia, devido a envenenamentos e perseguição humana. Em toda a Europa existem hoje pouco mais de 200 casais, 130 dos quais em Espanha.

Desde 1996 está a decorrer na Andaluzia um projecto para estabelecer uma população autónoma e estável na região, cuja peça central é o Centro de Reprodução de Guadalentín, gerido pela Fundación Gypaetus. Aqui já nasceram 52 crias de quebra-ossos; a maioria destina-se à liberdade, para reforçar as populações naturais.

À semelhança do que aconteceu no ano passado, existem hoje sete casais reprodutores naquele centro, localizado no Parque Natural das serras de Cazorla, Segura e Las Villas: Cabús e Corba, Elías e Viola, Lázaro e Nava, Joseph e Keno, Andalucía e Salvia, Borosa e Toba e Tranco e Sabina. No ano passado, este último casal pôs ovos pela primeira vez, depois de três anos juntos.

Este ano, o primeiro ovo foi posto a 5 de Dezembro às 10h35, cerca de dois meses depois de terem começado as cópulas. “Pelo segundo ano consecutivo, Keno foi a fêmea que pôs o primeiro ovo da temporada”, escreve a Junta de Andaluzia em comunicado, na sexta-feira passada.

“Desde esse momento, os técnicos do centro intensificaram a vigilância da incubação pelo casal para assegurar o máximo êxito reprodutor”, acrescenta o comunicado. Agora será preciso esperar quase dois meses para saber se este ovo terá sucesso ou não.

Actualmente estima-se que vivam em liberdade na Andaluzia 15 quebra-ossos, fruto das libertações no âmbito do Programa de Reintrodução do Quebra-ossos, começadas em 2006. Um deles, a fêmea Bujaraiza, esteve em Portugal em Maio de 2015.  Em Abril de 2015, as autoridades confirmaram o nascimento da primeira cria em liberdade na Andaluzia. A maioria das aves que estão a ser seguidas optam por permanecer naquela província.

Em Portugal, a espécie está dada como extinta. Não se conhecem registos da sua ocorrência desde o final do século XIX, segundo o livro “Aves de Portugal” (2010). O registo mais preciso é de 1888 quando duas aves foram abatidas no rio Guadiana. Os exemplares estão hoje no Museu de Zoologia da Universidade de Coimbra.

Espanha alberga cerca de 130 casais reprodutores de quebra-ossos, ou seja, 60% da população europeia desta ave, estimada em pouco mais de 200 casais. No final de Outubro, uma equipa de investigadores coordenados pela Universidade de Lleida publicaram um artigo na revista Scientific Reports, segundo o qual as populações de quebra-ossos da Andaluzia realizam mais movimentos dispersivos do que as populações que vivem nos Pirinéus ou nos Alpes. Para chegar a esta conclusão, os investigadores seguiram via satélite os movimentos de 19 quebra-ossos pirenaicos de 2006 a 2014.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.