Descoberta espécie rara de papagaio no México

Uma nova e rara espécie de papagaio, o papagaio-das-asas-azuis (Amazona gomezgarzai), foi descoberta na região amazónica da Península do Iucatão, no México. A sua descrição para a Ciência foi publicada hoje na revista PeerJ.

 

O papagaio-das-asas-azuis mede cerca de 25 centímetros e vive em pequenos bandos de até 12 indivíduos nas florestas nativas da região de Tekax, na Península do Iucatão. Alimenta-se de sementes, frutas, flores e folhas. É uma ave diurna e começa o dia com o nascer-do-sol. Quando em repouso é difícil de observar, graças à sua plumagem que actua como camuflagem.

 

Macho de papagaio-das-asas-azuis. Foto: Tony Silva

 

Esta é considerada uma espécie única por causa das penas azuis na ponta das asas e pela plumagem verde na cabeça. Mas não só. Uma das suas características mais distintivas é a sua vocalização que faz lembrar mais uma ave de rapina do que um papagaio.

Actualmente são conhecidas no México 23 espécies de papagaios, seis das quais endémicas. A partir de agora existe mais uma.

 

Fêmea de papagaio-das-asas-azuis. Foto: Tony Silva

 

Esta espécie foi encontrada no início de 2014 pelo ornitólogo e veterinário mexicano Miguel A. Gómez Garza, da Universidade Autónoma de Nuevo León, em Monterrey, durante uma visita a uma zona remota da Península do Iucatão, a sul de Becanchén, no município de Tekax.

Garza trabalha há décadas na ecologia dos papagaios do México e, em 2014, publicou um livro sobre as espécies desse país. Ao mesmo tempo, tem estado profundamente envolvido na reabilitação de espécies selvagens resgatadas comércio ilegal para as reintroduzir na natureza.

Ao percorrer um trilho de floresta, Garza avistou papagaios com uma coloração completamente diferente das outras espécies conhecidas até então. A aparência das aves e o seu comportamento sugeriram que pertenciam ao género Amazona. Garza contactou uma equipa de cientistas que fez análises genéticas e um detalhado estudo morfológico. Para isso, compararam-no a outras espécies, estudando as coleções de aves do México guardadas em seis museus de História Natural no México, Espanha e Estados Unidos.

 

Macho de papagaio-das-asas-azuis nas suas actividades diárias. Foto: Tony Silva

 

Vista ao longe na floresta, esta nova espécie pode ser confundida com outras duas (A. albifrons e A. xantholora). Mas as suas vocalizações e outras características morfológicas são muito diferentes. Além disso, o estudo genético concluiu que o percurso evolutivo desta espécie começou há cerca de 120 mil anos.

 

Espécie ameaçada?

Depois da descrição da espécie, agora os investigadores estão preocupados com a sua conservação. Até à data, a sua presença está confinada a uma área com cerca de 100 quilómetros quadrados. Nenhuma zona desta região é área protegida, salientam os cientistas.

“O seu reduzido território e raridade devem fazer da sua conservação uma prioridade”, escrevem no artigo científico. Para já, aconselham a que este papagaio receba o estatuto de espécie Criticamente Ameaçada pela Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).

“O seu habitat tem sido alterado significativamente. Este papagaio está confinado a uma pequena área de floresta nativa e nenhuma parte dela é protegida. Por isso, implementar medidas de conservação é imperativo para providenciar refúgio para esta e outras tantas espécies que vivem no mesmo território.”

 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.