Descoberta incrível biodiversidade em lagos urbanos de Los Angeles

A vida selvagem urbana está incrivelmente pouco estudada e talvez saibamos mais sobre animais de lugares exóticos do que sobre aqueles que vivem nas nossas cidades. Duas cientistas ficaram surpreendidas com a riqueza de uma zona de lagos urbanos em Los Angeles.

 

Emile Fiesler, presidente dos Bioveyda Biological Inventories, Surveys and Biodiversity Assessments, e Tracy Drake, gestora da reserva Madrona Marsh Preserve, estudaram a fauna desta área de 18 hectares na Califórnia, numa das maiores áreas metropolitanas do mundo.

O que encontraram surpreendeu-as: registaram 689 espécies de invertebrados que conseguiram sobreviver a décadas de exploração agrícola e petrolífera e às pressões da urbanização. O estudo foi publicado agora na revista Biodiversity Data Journal.

Apesar de terem sido os insectos os primeiros a desenvolver a capacidade de voar, muito antes dos dinossauros se tornarem aves, são estes últimos que têm recebido a nossa maior atenção. Este feito evolutivo é uma das razões pelas quais os insectos são o grupo com maior número de espécies no mundo.

“Os insectos e outros invertebrados preencheram todos os nichos ecológicos e todos os cantos do nosso planeta”, explicam as autoras. “Não é surpresa que estas pequenas criaturas tenham conquistado as nossas cidades e invadido também as nossas casas.”

A maioria dos insectos foi introduzida, acidental ou deliberadamente, pelos humanos.

“Os restantes – as espécies selvagens nativas – são capazes de sobreviver na cidade principalmente por causa da sua capacidade de adaptação”, salientam. “Por isso é surpreendente termos encontrado um número destes de espécies não voadoras numa pequena área rodeada de urbanização.”

A Madrona Marsh Preserve foi criada na cidade de Torrance, um conjunto de zonas húmidas na área metropolitana de Los Angeles, nos Estados Unidos, onde vivem mais de 17 milhões de pessoas. Esta área protegida é conhecida pelas suas aves, mas também ali ocorrem mamíferos, répteis, anfíbios e peixes. À excepção das borboletas e libélulas, a fauna de macro-invertebrados terrestres era até agora virtualmente desconhecida.

Graças a este estudo foi possível fazer uma lista de 689 espécies, pertencentes a 13 classes, 39 ordens e 222 famílias. Formigas e vespas que não voam estão entre estes insectos sobreviventes numa ilha rodeada de ruas e de prédios, como o segundo maior centro comercial da zona Oeste da Califórnia.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.