Descoberta nova espécie de ave na China

A Felosa de Sichuan (Locustella chengi), que vive em cinco províncias montanhosas na região central da China, foi descoberta porque o seu canto chamou a atenção dos investigadores.

 

Esta ave tem passado despercebida por entre a vegetação densa daquelas montanhas, entre os 1000 e os 2300 metros de altitude, contam os investigadores, coordenados por Per Alstrom (da Universidade sueca de Ciências Agrárias) e Fumin Lei da Academia de Ciências chinesa, no artigo publicado na revista “Avian Research”.

O que a denunciou foi o seu canto, diz Pamela Rasmussen, bióloga da Universidade estatal de Michigan, Estados Unidos, e co-autora do artigo.

“A felosa de Sichuan é muito tímida e difícil de descobrir porque o seu habitat preferido são as plantações de chá e vegetação muito densa”, explica Rasmussen.

Contudo, diferencia-se pelo seu canto distinto que consiste num som muito parecido ao produzido por um insecto, concluíram os investigadores da Suécia, China, Estados Unidos, Reino Unido e Vietnam.

Em Maio de 1992, Per Alstrom e Urban Olsson, dois dos investigadores da equipa, ouviram pela primeira vez aquela felosa na montanha Emei. “Ouvimos um canto que não conhecíamos vindo de uns arbustos altos perto do trilho onde estávamos”, diz Per Alstrom, citado pelo jornal “The Guardian”. “O canto não parecia ser de uma ave e como não vimos nenhuma ficámos na dúvida se seria ave ou insecto”, acrescenta. Ainda assim, acreditaram que mais depressa seria uma ave.

Fotografia: Laojun Shan

 

Aqui pode ouvir o canto da felosa, captado por Per Alstrom, no site de sons de aves Xeno-canto.

Quase 20 anos de buscas depois, encontraram a ave novamente. E graças a análises genéticas, a medições, cor da plumagem e às vocalizações confirmaram que esta é uma espécie nova para a Ciência.

O seu nome em Latim, Locustella chengi, é uma homenagem a Cheng Tso-hsin, ornitólogo chinês que fundou o Museu de História Natural de Pequim e escreveu mais de 30 livros. “Quisemos homenagear o professor Cheng Tso-hsin pela sua contribuição única para a ornitologia chinesa”, explica Rasmussen. “Muitas espécies têm nomes de exploradores europeus e de monarcas, mas poucas têm nomes de cientistas chineses.”

Actualmente, a felosa é comum na região Centro da China e não parece sofrer de nenhuma ameaça, acrescenta Rasmussen.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.