Descoberta nova espécie de ave que viveu há 50 milhões de anos

Está lá quase tudo: ossos, penas e tecidos moles. Uma equipa de paleontólogos estudou um conjunto de fósseis encontrados num antigo lago do Wyoming e descobriu uma nova espécie de ave, parente da avestruz e do kiwi, que viveu há 50 milhões de anos. O achado vai ajudar a saber mais sobre as aves que viveram na América do Norte quando a região era um paraíso tropical.

 

Os fósseis desta ave foram encontrados há mais de 10 anos num antigo leito de rio no Wyoming, Estados Unidos. Estavam completamente intactos com ossos, penas e tecidos moles, o que é surpreendente. “Os fósseis de aves são raros”, disse Sterling Nesbitt, do Virginia Tech’s College of Science, um dos responsáveis pela investigação. Os ossos das aves são ocos e, por isso, muito mais frágeis do que os ossos dos mamíferos, quebrando-se mais facilmente durante a fossilização.

Nesbitt começou a estudar os fósseis em 2009 e considera que esta é a descoberta de uma vida para um paleontólogo. “Esta é uma mais bem preservadas e antigas espécies de aves depois da era dos grandes dinossauros”, disse este professor assistente no Departamento de Geociências que, com Julia Clarke, da Universidade de Texas, são os autores do estudo recentemente publicado na revista científica Bulletin of the American Museum of Natural History.

 

 

A nova espécie de ave é a Calciavis grandei (“calci” quer dizer “pedra” e “avis” representa “ave”; “grandei” pretende homenagear o paleontólogo Lance Grande que tem estudado os fósseis daquele antigo lago).

Acredita-se que esta ave teria mais ou menos o tamanho de uma galinha e, tal como uma galinha, não era grande voadora. Apenas batia as asas para se impulsionar ao longo de curtas distâncias para fugir dos predadores.

 

Foto: Sterling Nesbitt/Virginia Tech
Foto: Sterling Nesbitt/Virginia Tech

 

Esta espécie vivia “num ambiente muito rico em vida tropical, o que é um contraste enorme com o ambiente desértico no qual a região do Wyoming se transformou”, acrescentou o paleontólogo. Quando as florestas tropicais desapareceram da América do Norte, a Calciavis e outras aves mais tropicais extinguiram-se.

A ave é uma parente das avestruzes actuais e dos kiwi. Nesbitt salientou que esta espécie mostra “que o grupo que inclui as maiores aves não voadoras de hoje tinha uma distribuição muito maior e uma história evolutiva mais longa na América do Norte”, acrescentou.

Para o futuro, o esqueleto da Calciavis será importante para interpretar outros fósseis de aves do Eoceno (a segunda época da era Cenozoica, entre cerca de 55 milhões de anos atrás e cerca de 36 milhões de anos atrás), encontrados e recolhidos há décadas naquela região. “Este espécime espectacular poderá ser a chave para nos ajudar a interpretar os escassos fósseis que temos de aves que viveram na América do Norte há milhões de anos”.

Alguns dos fósseis estão expostos na exposição “Dinosaurs Among Us” no Museu de História Natural em Nova Iorque. Os restantes fósseis estão guardados no Chicago’s Field Museum of Natural History e no Wyoming Geological Survey.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.