Fêmea e crias no CNRLI. Foto: Joana Bourgard/Wilder (arquivo)

Dois linces-ibéricos foram viver para o Zoo Aquarium de Madrid

O Zoo Aquarium de Madrid passou ontem a ser um dos únicos quatro zoológicos do mundo onde vivem linces-ibéricos. Jazmín e Kalama, uma fêmea e um macho com quatro e três anos de idade, respectivamente, vão ajudar a sensibilizar as pessoas para a conservação da espécie, já que não se podem reproduzir nem ser devolvidos à natureza.

 

Jazmín, fêmea nascida em Março de 2012, e Kalama, macho nascido em Março de 2013, vieram do centro de reprodução em cativeiro de Zarza de Granadilla (Cáceres). Estes linces “já não estão aptos a reproduzir-se nem podem contribuir geneticamente para o programa de reprodução em cativeiro da espécie”, explica a Consejería andaluza de Ambiente em comunicado. “Também não podem ser devolvidos à natureza por terem passado parte da sua vida, ou toda ela, em cativeiro”, acrescenta a instituição.

A Junta da Andaluzia cedeu os dois linces ao Zoo – que já tinha mostrado interesse em recebê-los – no âmbito do projecto Iberlince, que quer recuperar os territórios históricos desta espécie em Portugal e Espanha.

O recinto dos linces no Zoo de Madrid, onde foi recriado um bosque mediterrânico, tem uma superfície de mais de 600 metros quadrados. As instalações de apoio – desde a cozinha à clínica veterinária – foram especialmente preparadas e avaliadas por uma equipa do programa de conservação do lince-ibérico. No exterior do recinto foram colocadas placas informativas que mostram aspectos da biologia do felino e o trabalho dos centros de reprodução.

A inauguração do recinto contou com a presença da rainha Sofia, da ministra espanhola do Ambiente em funções, Cristina García Tejerina e do presidente da Consejería andaluza para o Ambiente, José Fiscal. “Os zoológicos converteram-se em valiosos aliados da conservação de espécies ameaçadas como o lince-ibérico”, comentou Fiscal, citado pelo jornal El Mundo.

O projecto Iberlince salienta, em comunicado, que Jazmín e Kalama “estão associados a um programa de consciencialização que ajuda a divulgar as acções de conservação e a situação e problemática da espécie”.

Por isso, linces-ibéricos começaram a ser cedidos a zoos e parques onde as pessoas possam aprender sobre eles. Isto começou a ser feito há 15 anos no Zoobotânico de Jerez (Cádiz). Em Dezembro de 2014 foi a vez do Zoo de Lisboa, que recebeu Azahar – fêmea que hoje tem 13 anos e que foi o primeiro lince a inaugurar o centro nacional de reprodução do lince-ibérico, em Silves, em 2009 – e Gamma, macho com seis anos, que também veio de Silves. Em Junho de 2015, a Junta da Andaluzia cedeu o macho Javo e a fêmea Judia ao parque Selwo Aventura de Estepona (Málaga), vindos do centro de reprodução em cativeiro de La Olivilla (Jaén).

Estes são os únicos zoos onde vivem linces-ibéricos no mundo. Mas actualmente há alguns pedidos em curso do Zoo de Córdova, de dois zoos do Porto e de um parque em Andújar (Jaén), avança o Iberlince.

A conservação do lince-ibérico conta com uma rede de cinco centros de reprodução em cativeiro: Silves, El Acebuche, La Olivilla, Granadilla e Zoobotânico de Jerez. Desde 2009, ano em que começaram as libertações de linces na natureza, os centros de reprodução em cativeiro “deram” 141 animais aos matagais mediterrâneos de Portugal e Espanha.

De acordo com o mais recente censo sobre o lince-ibérico, estima-se que existam na natureza 404 animais desta espécie, classificada desde 22 de Junho de 2015 como Em Perigo de extinção, depois de anos na categoria mais elevada atribuída pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), Criticamente em Perigo.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Siga a nossa série “Como nasce um lince-ibérico” e conheça os veterinários, video-vigilantes, tratadores e restante equipa do Centro Nacional de Reprodução (CNRLI) em Silves.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.