Foto: Helena Geraldes/Wilder

Equipa de detecção de venenos vai proteger águias e abutres no Douro Internacional

Até Maio de 2019, cães e militares da GNR vão fazer um patrulhamento intensivo no Douro Internacional para detectar venenos e ajudar a proteger aves ameaçadas, como a águia-perdigueira e o britango (também conhecido por abutre-do-egipto), foi revelado nesta semana.

 

Naquela região, que abrange o Douro Internacional e o Vale do rio Águeda, está a decorrer um projecto de conservação da natureza, dedicado à águia-perdigueira (Hieraaetus fasciatus) e ao britango (Neophron percnopterus). É o LIFE Rupis (2015-2019), projecto coordenado pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (Spea) para reduzir a mortalidade destas aves e aumentar o seu sucesso reprodutor.

Um das necessidades para recuperar aquelas aves é combater o uso ilegal de venenos. É aqui que entram os binómios cinotécnicos (homem/cão), compostos por dois cães pastores Belga Mallinois e um cão pastor Alemão, em conjunto com militares do Serviço de Protecção da Natureza e Ambiente (SEPNA) da GNR.

Estas patrulhas regulares irão “detectar situações de uso ilegal de venenos, nomeadamente a presença de iscos envenenados”, avança um comunicado divulgado pela GNR. “Nestas situações, a utilização de cães permite fiscalizar áreas muito extensas e, por vezes, de difícil acesso.”

O veneno, escondido nos campos e mesmo nas cidades, é uma arma usada há milhares de anos numa guerra contra os animais selvagens. Segundo dados do Programa Antídoto (plataforma que reúne 29 entidades para combater o uso ilegal de venenos), de 1992 a 2014 morreram 233 indivíduos de espécies protegidas em Portugal. Entre eles está a lince-ibérico Kayakweru, que morreu com dois anos de idade, em Março de 2015. Nesta lista estão também grifos, lobos, milhafres-reais, ginetas, abutres-pretos, britangos e muitas outras espécies.

Em Novembro passado, em apenas uma semana, a Liga para a Protecção da Natureza (LPN) e a GNR encontraram envenenados nove milhafres-reais, uma águia-imperial e uma raposa em Castro Verde, naquele que é o caso mais grave registado no Alentejo desde que há registos.

As patrulhas cinotécnicas no Douro Internacional vão também “verificar situações com cadáveres ou animais selvagens ou domésticos, com indícios de envenenamento” e “facilitar a abertura de processos criminais com uma maior quantidade e qualidade de provas obtidas”.

A GNR espera ainda que este patrulhamento intensivo tenha um “efeito preventivo e dissuasor”.

Em Portugal e Espanha, o britango e a águia-de-Bonelli são duas espécies em perigo de extinção. O britango é o abutre mais pequeno da Europa, estando classificado como “Em Perigo”. As populações desta espécie reduziram-se a metade nos últimos 40 anos, pressionadas por uma forte perda do habitat.

Já a águia-perdigueira tem o estatuto de “Quase Ameaçada” na Europa, devido às perdas de população e às pressões que a espécie sofre. Em Portugal e Espanha está classificada como “Em Perigo”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.