Esta águia-pesqueira tem a companheira à espera na Alemanha

Um macho de águia-pesqueira encontrado ferido na ilha da Murraceira, Figueira da Foz, esteve em tratamento durante três semanas e tem agora pouco tempo para regressar ao local de nidificação, na Alemanha. É que a fêmea do casal já está a ser cortejada pela concorrência.

 

Esta ave, que pertence à população invernante de águias-pesqueiras (Pandion haliaetus) que passam os meses mais frios em Portugal, e nidificam depois noutros países, foi ontem devolvida à natureza depois de estar três semanas em tratamento e recuperação.

Tinha sido encontrada por particulares e entregue ao CRAM (Centro de Recuperação de Animais Marinhos), em Quiaios, no dia 12 de Março. Três dias depois, foi transferida para o CERVAS (Centro de Ecologia, Recuperação e Vigilância de Animais Selvagens), em Gouveia, onde se verificou que a águia “apresentava um extenso hematoma na asa esquerda e uma ferida numa das patas”, explicou à Wilder o coordenador do centro, Ricardo Brandão.

 

 

“Estas lesões e a evolução das mesmas, desde o dia de recolha da ave, eram compatíveis com electrocussão”, acrescentou este veterinário.

O processo de recuperação da águia-pesqueira demorou cerca de três semanas. Consistiu, além do tratamento das feridas, um treino de voo e musculação.

“Tivemos de realizar tudo o mais rapidamente possível, para permitir que a ave pudesse voar para o local de nidificação, para junto da fêmea.”

 

 

É que esta ave, um macho adulto, estava marcada com anilhas por investigadores alemães que a  seguem desde 2009. Durante o Outono e Inverno sabe-se que frequenta a zona entre a Figueira da Foz e Montemor-o-Velho. Mas quando chega o calor parte para a Alemanha, onde se junta à fêmea do casal e reside durante a época de reprodução.

Este ano, uma vez que há um atraso na partida, “já há indicações, por parte de investigadores alemães, de que outros machos no local estão a tentar ocupar o lugar desta águia”, com tentativas de sedução da sua companheira.

Ricardo Brandão vai estar atento nos próximos dias, para tentar perceber se a águia se readapta à vida selvagem e ainda se chega a tempo de nidificar com a fêmea do casal. “Como está anilhada, esperamos que haja observações nos próximos tempos.”

 

Flamingo junta-se a bando na Murraceira

 

Já um flamingo, devolvido também ontem à natureza, na ilha da Murraceira (Figueira da Foz), tinha sido encontrado no final de Março por particulares, na zona de Soure.

 

 

Este flamingo tinha chegado ao CERVAS depois de pernoitar no pólo de recepção de animais selvagens na Mata Nacional do Choupal (Coimbra), gerido pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), que o encaminhou para o centro.

Tinha “uma extensa ferida na parte interior de uma das asas, um extenso hematoma ao longo da outra asa e vários cortes nos membros posteriores”, que se pensa terem resultado do choque com uma estrutura e da queda que se seguiu, descreveu Ricardo Brandão.

Também neste caso, o processo de recuperação foi o mais rápido possível, com alimentação e tratamento das feridas, até porque os flamingos “não se costumam dar bem em cativeiro”.

 

 

De acordo com o coordenador do CERVAS, nesta época do ano a ilha da Murraceira “é frequentada por mais de 1.000 flamingos”, o que levou à escolha desse sítio. “A ave foi anilhada no local por um vigilante da Natureza do ICNF (Paulo Tenreiro) e de seguida libertada calmamente num local muito próximo de várias dezenas de flamingos de diversas idades.”

Depois de caminhar lentamente em direcção do bando, ao qual se iam juntando entretanto mais flamingos, a ave tornou-se parte do grupo. Mais uma entre muitos.

 

 

[divider type=”thin”]Saiba mais.

Se desejar conhecer melhor o trabalho do CERVAS, visite o site do centro e acompanhe a página no Facebook.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.