Este ano há cerca de 1.200 abetardas na região de Castro Verde

Mais de 10 equipas saíram para o campo a 1 de Abril para contar abetardas, uma das maiores aves da Europa, repetindo um censo que é feito há já 20 anos. Na região de Castro Verde, que alberga 80% da população portuguesa, foram contadas cerca de 1.200 aves.

 

Nos campos de Castro Verde, os machos de abetarda (Otis tarda) estão em plena época de paradas nupciais. Estas demonstrações começam no final de Fevereiro e podem durar até meados de Maio, segundo o livro “Aves de Portugal – Ornitologia de Portugal Continental”.

É precisamente nesta importante época do ano que se realiza o censo populacional da espécie. “As contagens fazem-se nesta altura para tentarmos encontrar o maior número de machos em parada e de fêmeas também”, explicou à Wilder Pedro Rocha, director do Departamento de Conservação da Natureza e Florestas do Alentejo (ICNF). O objectivo é conseguir fazer as contagens numa época de “maior visibilidade para estas espécies, nas áreas de exibição dos machos”, acrescentou.

Este ano, a Zona de Protecção Especial (ZPE) de Castro Verde e algumas zonas da ZPE do Guadiana registaram cerca de 1.200 abetardas. “Ainda não temos um número definitivo mas andará por volta dos 1.200 animais, um valor que está dentro dos valores de outros anos”, salientou.

Em Portugal, a abetarda só nidifica no Alentejo. Aqui, os principais núcleos reprodutores estão nas regiões de Castro Verde (com cerca de 80% do efectivo nacional), Campo Maior e Vila Fernando (Elvas). Por enquanto, apenas são conhecidos os dados para Castro Verde, apesar de ter havido contagens em outras áreas.

Em Castro Verde, o censo é feito com a mesma metodologia há 20 anos. Este ano “foram 11 as equipas que fizeram as contagens, cada uma com uma média de três pessoas”, contou à Wilder Rita Alcazar, coordenadora da Liga para a Protecção da Natureza (LPN) em Castro Verde.

Estas 1.200 abetardas representam um aumento de indivíduos em relação aos menos de 400 registados em 1997. Ainda assim, faltam dados para fazer uma análise completa. “Precisávamos de um estudo detalhado para compreender melhor a demografia desta espécie e o que se está a passar para garantir a sua sobrevivência em Portugal, mas faltam meios”, acrescentou a responsável.

A abetarda atingiu um pico em 2009, quando foram contabilizadas 1.413 aves. “Mas nos últimos cinco anos o número tem-se mantido sempre em cerca de 1.200”, notou Rita Alcazar. Contudo, se a espécie parece estável, “há áreas onde poderá estar a diminuir”.

De acordo com Pedro Rocha, a abetarda é uma espécie que enfrenta vários desafios. “A abetarda pertence a um grupo de aves, as aves estepárias, que devem ser dos grupos mais ameaçados no país”, salientou. Fazem parte deste grupo aves como o sisão, o cortiçol-de-barriga-negra e o peneireiro-das-torres (ou francelho). Para começar, “os sistemas agrícolas extensivos dos quais dependem estão em franco declínio”. “Depois há a conversão dos solos agrícolas de sequeiro para regadio, a alteração para práticas mais intensivas com a tendência para a perda deste mosaico de paisagens.” E, para terminar, Pedro Rocha lembrou também a ameaça das colisões com linhas eléctricas e os obstáculos das vedações das propriedades agrícolas.

Para tornar a vida das abetardas um pouco mais fácil, a LPN tem trabalhado desde 1990 com agricultores de Castro Verde. “Começámos por adquirir alguns terrenos considerados áreas importantes de paradas nupciais para as abetardas, com a ajuda do projecto Life”, lembrou Rita Alcazar. Os peritos da LPN trabalham ainda as questões de gestão agrícola, para promover os prados espontâneos naturais, de sequeiro, – onde as abetardas fazem ninhos e usam para se reproduzir -, zonas de cereal, que fornecem locais de reprodução e alimento (cereal e restolho, por exemplo) e pontos de água, especialmente importantes durante o Verão.

Além disso, “trabalhamos com a EDP Distribuição para minimizar as mortes por colisão com linhas eléctricas e com cabos de energia e fazemos a manutenção dos habitats”.

Segundo o livro “Aves de Portugal”, os habitats ideais para esta espécie são as planícies abertas com culturas extensivas, geralmente em solos com baixa capacidade agrícola.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.