Foto: Helena Geraldes/Wilder

FAPAS aponta os altos e baixos da conservação da natureza em 2015

Linces, lobos, rolas, vespas-asiáticas, eucaliptos, ZPE, Banco Gorringe, Berlengas, barragens marcaram o ano que agora termina. O FAPAS – Fundo para a Protecção dos Animais Selvagens faz um balanço do melhor e do pior de 2015 para a Natureza.

 

A reintrodução do lince-ibérico (Lynx pardinus) no Alentejo é um dos factos favoráveis de 2015. A organização não governamental sublinha a “taxa de sobrevivência de 90% entre os linces libertados até ao momento (10 libertados e apenas uma morte)”. Ainda assim tem dúvidas quanto à “operacionalização das medidas silvo-ambientais” e aos apoios financeiros “aquém do necessário”.

Outra espécie que ganhou com 2015 foi o lobo-ibérico (Canis lupus signatus), por causa da elaboração do Plano de Acção para a sua conservação. “Em bom tempo surgiu a intenção do Ministério do Ambiente de colocar mãos à obra para que o lobo-ibérico seja alvo da atenção das políticas públicas e do necessário investimento na sua preservação”, escreve o FAPAS em comunicado.

A organização destaca também como favorável a designação das Zonas de Protecção Especial (ZPE) do Cabo Raso e de Aveiro/Nazaré e a redefinição dos limites da ZPE do Cabo Espichel e Costa Sudoeste – que beneficia várias espécies de aves marinhas – e a inclusão do Sítio Banco Gorringe (monte submarino a sudoeste do Cabo de São Vicente) na Lista Nacional de Sítios. Esta é uma “vasta área com uns impressionantes 2,3 milhões de hectares, não só importante para a conservação de diversas espécies de fauna marinha, como a tartaruga-comum e o golfinho-roaz, mas também porque alberga dois tipos de habitat marinhos (…): bancos de areia permanentemente cobertos por água do mar pouco profunda e recifes”.

A lista dos eventos favoráveis fica completa com a chegada do novo navio de investigação do Estado Português, o “Mar Portugal” e a regulamentação da nova Lei da Pesca nas águas interiores, “ferramenta decisiva para a conservação das espécies nos nossos cursos de água”.

Como desfavorável, o FAPAS aponta o “marcar passo da revisão da legislação nacional para impedir, minimizar e atenuar os impactos causados pelas espécies exóticas invasoras”, como a vespa-asiática, erva-das-pampas, achigã ou siluro.

A Reserva Natural das Berlengas surge pelas piores razões, nomeadamente pela petição pública e providência cautelar para impedir a erradicação dos ratos-pretos – “séria ameaça à conservação das aves marinhas” – e a carga da visitação que não cumpre a lei.

No que de pior aconteceu em 2015, o FAPAS inclui também o “exagero da utilização de produtos químicos” na agricultura e em meio urbano, o regime de arborização e rearborização que “continua a favorecer a plantação legal e ilegal do eucalipto em detrimento de outras espécies” e as novas barragens, por exemplo na sub-bacia do rio Tâmega, a do Sabor, Foz-Tua e Ermida-Ribeiradio.

A lista termina com a caça à rola-comum, “uma espécie que já não é comum e está ameaçada pela caça pela falta de coragem das autoridades na proibição do seu abate”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.