Orangotango macho, Bornéu. Foto: Eleifert/Wiki Commons

Floresta do Bornéu perdeu 100.000 orangotangos em 16 anos

O abate de árvores e as plantações à escala industrial nas florestas tropicais do Bornéu causaram o desaparecimento de 100.000 orangotangos entre 1999 e 2015, alerta um novo estudo científico internacional.

 

Este número é o resultado de 16 anos de trabalho de uma equipa internacional para saber o que está a acontecer ao orangotango (Pongo pygmaeus), espécie ameaçada pela exploração mineira e pela indústria do óleo de palma, madeireira e de pasta de papel.

A situação crítica desta espécie levou a que, recentemente, mudasse de estatuto, passando a ser classificada como Criticamente Em Perigo de extinção na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).

 

Orangotango macho, Bornéu. Foto: Eleifert/Wiki Commons

 

“O uso insustentável dos recursos naturais causou um declínio dramático dos orangotangos do Bornéu”, escrevem os investigadores no artigo publicado na revista Current Biology. “Apenas 38 das 64 metapopulações que restam têm mais de 100 indivíduos.”

As ameaças são várias. Só a desflorestação, por exemplo para criar espaço para as plantações de óleo de palma, pode dizimar mais 45.300 orangotangos nos próximos 35 anos, estimam os investigadores. E depois, muitos animais vivem em populações pequenas e fragmentadas. “Estas não são viáveis e muito provavelmente vão desaparecer num futuro próximo.”

Apesar do abate de árvores ser uma grave ameaça, os cientistas descobriram que os animais também estavam a desaparecer nas áreas ainda com floresta. É que, segundo a investigadora Maria Voigt, do Max Planck Institute for Evolutionary Anthropology na Alemanha, muitos orangotangos estão a ser chacinados como retaliação por danos nas culturas.

“Quando estes animais entram em conflito com as pessoas na fronteira de uma plantação, eles acabam sempre por perder. As pessoas matam-nos”, disse Serge Wich da Universidade Liverpool John Moores, que também fez parte do estudo. “Ainda na semana passada recebemos informação de um orangotango com 130 chumbos no corpo, depois de ter sido abatido no Bornéu.”

O estudo refere que, por ano, na região de Kalimantan morrem em média 2.256 orangotangos por causa de conflitos com humanos. Serge Wich não tem dúvidas: “isto é chocante e desnecessário. Os orangotangos podem comer os frutos dos agricultores mas não são perigosos”.

Segundo os investigadores, “parcerias eficazes com empresas madeireiras, cujas propriedades albergam a maioria dos orangotangos, são essenciais para travar o declínio destes animais”. No artigo, os cientistas lembram que os orangotangos podem ocorrer em zonas exploradas por aquelas empresas, dependendo do tipo e intensidade da exploração. Ainda assim, notam, falta saber se este é uma situação temporária ou se se poderá manter a longo prazo.

“As nossas conclusões são alarmantes”, escrevem os investigadores no final do artigo. “Para evitar ainda maiores declínios, a Humanidade tem de agir já: a conservação da biodiversidade precisa de chegar aos sectores da política e da sociedade e deve tornar-se um princípio orientador no discurso público e nos processos políticos de tomada de decisões.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.