Foto: Helena Geraldes/Wilder

Fogo em Águeda atinge projecto de recuperação de um bosque pela Quercus

Um incêndio que deflagrou na noite de 28 de Abril na zona serrana de Águeda afectou oito hectares do Projecto Cabeço Santo, uma iniciativa de recuperação florestal da Quercus a decorrer na zona de Belazaima do Chão há mais de uma década.

 

Dos cerca de oito hectares que arderam, quatro tinham sido plantados nesta época, por voluntários, com mais de 1.500 árvores e arbustos no Vale de Barrocas, diz o núcleo regional de Aveiro da Quercus em comunicado. O incêndio só acabou por ser extinto ao fim da tarde desse dia.

 

Zona do Cabeço Santo atingida pelo fogo. Foto: Quercus

 

A associação salienta que o incêndio foi ateado num dia especialmente vulnerável. “Era uma noite de intenso vento de nordeste e o incêndio teve início pouco depois da meia noite, dificultando a detecção e praticamente impossibilitando uma intervenção de combate em fase inicial.” Além disso, acrescenta, as chamas começaram “em plena área de intervenção do projecto, o que denota uma intenção destrutiva de contornos sinistros”.

Para já, a Quercus acredita que algumas plantas desses quatro hectares ainda poderão rebentar e recuperar.

Uma das zonas menos afectadas foi um dos corredores ecológicos ribeirinhos de folhosas, essencialmente carvalhos, que o projecto criou desde 2009. Segundo a associação, este “funcionou efectivamente na sua missão de deter o fogo”.

Para a Quercus, é necessário “criar zonas estratégicas de redução de combustíveis que dificultem a progressão do fogo” e “aumentar a vigilância em condições meteorológicas adversas, como são as de temperaturas especialmente elevadas e ventos fortes”.

“Os desafios para o futuro continuam de enorme dimensão e os recursos materiais e humanos disponíveis são sempre inferiores às necessidades”, escreve a associação que pede o apoio da comunidade local.

O projecto começou em 2006 como resposta a um incêndio de 2005 e depois de décadas de ocupação intensiva e extensiva do espaço de montanha, afectando os últimos núcleos de paisagem e biodiversidade. A Quercus adquiriu um terreno num dos núcleos de maior biodiversidade e tem vindo a fazer o controlo das plantas invasoras (como a mimosa e a acácia-de-folhas-longas) e a promover as nativas.

O Cabeço Santo tem o seu ponto mais alto a 450 metros. Originalmente estaria coberto de carvalhos mas esses bosques foram reduzidos a matagais ou substituídos por plantações de eucalipto, segundo a associação.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Acompanhe o trabalho no Cabeço Santo aqui.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.