Fóssil revela nova espécie de golfinho que viveu há 6 milhões de anos

Uma equipa de investigadores estudou fragmentos de fósseis encontrados no Panamá e descobriu um novo género e espécie de golfinho de água doce, o Isthminia panamensis, segundo um artigo publicado hoje na revista científica Peerj.

 

Os fósseis pertencem a um animal que viveu há entre 5.8 e 6.1 milhões de anos no Mar das Caraíbas e que teria cerca de três metros de comprimento. A equipa de investigadores encontrou, na costa do Panamá perto da cidade de Piña, metade de um crânio, uma mandíbula, dentes, uma escápula e dois pequenos ossos da barbatana.

 

 

Crânio e mandíbulas. Crédito: Nicholas D. Pyenson / NMNH Imaging / Smithsonian Institution

 

Hoje existem apenas quatro espécies de golfinhos de água doce e todas têm uma solução comum para se adaptarem viver em rios e não no mar: barbatanas diferentes, pescoços mais flexíveis e focinhos mais compridos e estreitos para navegarem e caçarem melhor nos rios.

Com base no estudo de fósseis, sabe-se hoje que os antepassados dos golfinhos de água doce estavam espalhados pelo planeta e o Isthminia panamensis era um deles.

Mas quando, na sua história evolutiva, é que estes golfinhos transitaram da água salgada dos oceanos para a água doce dos rios?

“Descobrimos este novo fóssil nas rochas marinhas e muitas das características do crânio e das mandíbulas apontam para que tenha sido um habitante marinho, como os golfinhos oceânicos modernos”, explicou o coordenador do estudo, Nicholas D. Pyenson, curador dos fósseis de mamíferos marinhos no Museu de História Natural do Smithsonian.

 

Cientistas a recolher os fósseis em Junho de 2011. Foto: Jorge Velez-Juarbe / Smithsonian Institution

 

“Muitas outras espécies de água doce na Amazónia – como os manatins, tartarugas e raias – têm antepassados marinhos. Mas até agora, o registo fóssil de golfinhos de rio nesta bacia ainda não nos tinha revelado muito sobre esses antepassados marinhos. Agora, o Isthminia dá-nos uma clara ligação, em tempo geológico, para compreendermos quando é que esta linhagem chegou à Amazónia”, acrescentou.

O Isthminia “é o parente mais próximo do golfinho de rio do Amazonas que vive hoje em dia”, disse outro autor do estudo, Aaron O’Dea, do Instituto de Investigação Tropical do Smithsonian, no Panamá. “Enquanto as baleias e os golfinhos evoluíram há muito tempo de antepassados terrestres para mamíferos marinhos, os golfinhos de rio representam um movimento inverso, ao regressar aos ecossistemas de água doce”, acrescentou.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.