Gralhas batem as asas para poupar energia

Pela primeira vez, investigadores observaram que as aves que voam e batem as asas estão a poupar energia, revela um estudo da Universidade sueca de Lund publicado na revista científica Journal of The Royal Society Interface.

 

Os biólogos da Universidade de Lund mostraram que as gralhas-de-nuca-cinzenta (Corvus monedula), espécie que também ocorre em Portugal, minimizam o gasto de energia quando levantam voo e voam porque as penas na ponta das suas asas criam vários pequenos vórtices em vez de um único grande vórtice. A descoberta pode vir a ser útil à indústria aeronáutica.

Até agora, múltiplos vórtices na ponta das asas só tinham sido associados a grandes planadores, como as águias, os abutres e as cegonhas. Nesta investigação, os biólogos Anders Hedenström, Christoffer Johansson e Marco Klein Heerenbrink, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lund descobriram que o mesmo fenómeno acontece com as gralhas-de-nuca-cinzenta, que batem as suas asas quando levantam voo e quando estão no ar.

As experiências foram realizadas num túnel de voo no Departamento de Biologia em Lund. As gralhas levantaram voo e voaram através de uma fina névoa que reflectiu uma luz laser, captada por câmaras especiais. Ao utilizar múltiplas imagens de várias câmaras, os investigadores conseguiram criar imagens tridimensionais do ar a passar pelas asas das gralhas.

 

 

“As penas da ponta das asas podem ser comparadas aos dedos esticados de uma mão”, explicou Anders Hedenström, em comunicado. “A ponta da asa gera vários pequenos vórtices no ar em vez de um grande vórtice, como uma aeronave com pontas das asas rectangulares ou elípticas. Exige mais energia e custa mais a levantar voo quando apenas é gerado um vórtice na ponta das asas”, acrescentou.

Anders Hedenström acredita que a descoberta poderá ter um impacto no desenho de futuros drones. “Poderemos construir drones mais eficientes que voem com batidas de asas. Dentro de uma década poderemos ver drones com uma morfologia parecida à de uma gralha”, disse o investigador.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.