uma estrelinha de cabeça listada segura pela mão de alguém
Estrelinha-de-cabeça-listada (Regulus ignicapillus). Foto: D.R.

Há 40 anos que se anilham aves na Lagoa de Santo André

É na Reserva Natural das Lagoas de Santo André e da Sancha que funciona a estação de anilhagem mais antiga de Portugal, onde se anilham aves selvagens nas migrações de Outono desde há 40 anos. A Wilder falou com Vítor Encarnação, coordenador do CEMPA (Centro de Estudos de Migrações e Protecção de Aves), do ICNF (Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas), e dá-lhe a conhecer sete factos que desconheciamos sobre esta estação.

 

1. Desde 1977 que na época das migrações de Outono se realizam campanhas internacionais de captura e anilhagem de aves no Monte do Outeirão, na Reserva Natural das Lagoas de Santo André e da Sancha. São já 40 anos de campanhas que atraem ornitólogos portugueses e estrangeiros até este local do Litoral Alentejano. Até hoje, a actividade apenas se interrompeu um ano, em 1984.

2. No total, 123.258 aves, de 173 espécies diferentes, foram capturadas e anilhadas nestas campanhas de Agosto a Outubro em Santo André, nos últimos 40 anos. A estação “é da maior importância, quer pelo contributo que dá na avaliação do fluxo migratório pós-nupcial, quer pela formação de anilhadores”, realça o coordenador do CEMPA.

 

garças-boieiras voam frente à silhueta escura dos ramos de uma árvore
Dormitório de garças boieiras (Bulbucus ibis), em Santo André. Foto: Milas

 

3. Nas campanhas de Outono deste ano (entre 1 de Agosto e 15 de Outubro)  foram capturadas e anilhadas 2.950 aves, de 78 espécies diferentes. As espécies mais comuns foram o rouxinol-pequeno-dos-caniços (Acrocephalus scirpaeus), a andorinha-das-chaminés (Hirundo rustica), a felosa-musical (Phylloscopus trochilus) e o rouxinol-bravo (Cettia cetti).

4. Nas mesmas campanhas, foram ainda recapturadas este ano 1095 aves, que já tinham sido anilhadas no decorrer desta campanha ou anilhadas em anos anteriores. Destas, 12 tinham sido anilhadas em países estrangeiros: 8 na Bélgica, 2 em França, 1 na Alemanha e 1 na Grã-Bretanha.

 

grande plano da cabela de um juvenil de cigarrinha-ruiva
Juvenil de cigarrinha-ruiva (Locustella luscinioides), em Santo André. Foto: Milas

 

5. Mais de 700 pessoas interessadas na actividade já passaram por Santo André nos últimos 40 anos, enquanto anilhadores ou candidatos a obterem uma licença, incluindo em acções de formação. Nos últimos 10 anos ali estiveram, nas campanhas de anilhagem, 348 pessoas, tanto portugueses como de países estrangeiros.

6. Santo André é a Estação Ornitológica Nacional desde 2007, uma vez que é a principal estação do ICNF, assegurando por isso a formação e avaliação de candidatos a anilhadores. Está em funcionamento durante todo o ano, tal como a estação d’A Rocha (Portimão) e das Salinas do Samouco. Estas duas últimas colaboram com o ICNF, mas são geridas por outras entidades.

7. Além das campanhas internacionais de anilhagem no Outono, Santo André participa no Projecto das Estações de Esforço Constante, uma parceria coordenada pelo ICNF, através do CEMPA, e pela Associação Portuguesa de Anilhadores de Aves. Neste âmbito, ali se realizam capturas e anilhagens regulares, entre o final de Março e de Julho. Fazem-se ainda contagens de aves ao longo de todo o ano, no âmbito de projectos internacionais e nacionais, como a Monitorização das Aves Invernantes e a Monitorização das Espécies de Aves Coloniais.

 

[divider type=”thin”]Saiba mais.

Pode procurar mais informações aqui, sobre a história e a actividade nesta estação. As próximas acções de anilhagem vão decorrer na Primavera de 2018, pelo que as datas só serão anunciadas no início do próximo ano. Se quiser assistir ou participar, esteja atento e inscreva-se.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.