Caravela-portuguesa. Foto: Ianaré Sévi/Wiki Commons

Há um alerta para o aparecimento de caravelas-portuguesas no Algarve

A Autoridade Marítima Nacional alertou neste sábado para o aparecimento de caravelas-portuguesas, organismo gelatinoso conhecido pela sua beleza e perigosidade, no Sotavento Algarvio.

 

A 10 de Março, “várias caravelas-portuguesas (uma espécie aquática parecida com a alforreca) surgiram nas praias do Sotavento Algarvio”, informou a Autoridade Marítima Nacional em comunicado. Estes organismos foram encontrados “com maior expressão entre Montegordo e a Manta Rota”.

A caravela-portuguesa (Physalia physalis) vive na superfície do mar graças ao seu flutuador cilíndrico, azul-arroxeado, cheio de gás. “O seu veneno é muito perigoso” e qualquer contacto deve ser evitado, aconselha a Autoridade Marítima. Na verdade, esta é a espécie com maior poder urticante que ocorre com frequência na costa portuguesa, incluindo os Açores e a Madeira.

“Os sintomas da picada são dor forte e sensação de queimadura (calor/ardor) no local e ainda irritação, vermelhidão, inchaço e comichão. Algumas pessoas, especialmente sensíveis às picadas e venenos das águas-vivas, podem ter reações alérgicas graves, como falta de ar, palpitações, cãibras, náuseas, vómitos, febre, desmaios, convulsões, arritmias cardíacas e problemas respiratórios”. Nestes casos devem ser encaminhadas de imediato para o serviço de urgência.

Na verdade, a caravela-portuguesa é uma colónia de indivíduos, cada um com a sua função específica. Flutua à superfície da água e é influenciada por ventos e correntes superficiais e os seus tentáculos podem chegar aos 30 metros, segundo o GelAVista, projecto de Ciência Cidadã promovido pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).

Desde 2016, mais de 170 cidadãos já ajudaram a conhecer quais são os organismos gelatinosos mais abundantes na costa portuguesa, submetendo as suas observações. No total, o GelAVista já recebeu registos de 12.830 gelatinosos, desde a Catostylus tagi à grande medusa Rhizostoma luteum, passando pela caravela-portuguesa.

Outrora considerada uma espécie rara na nossa costa portuguesa, a caravela-portuguesa é já uma espécie comum, segundo as informações obtidas pelo GelAVista. Em 2016 chegou mesmo a ser a segunda espécie mais avistada. “O ano de 2016 foi um ano atípico, com um Inverno bastante quente, o que indica que poderá ter existido um favorecimento desta espécie”, explicou em Dezembro à Wilder Antonina dos Santos, a coordenadora deste projecto do IPMA.

Em 2017, “verificaram-se diversas tempestades que poderão ter transportado estes organismos para zonas mais a norte. Foram, por exemplo, avistadas em número recorde em praias do Reino Unido.” Em contrapartida, em Portugal só se avistaram Physalia physalis durante os meses do Verão, resultando em 7% dos avistamentos de gelatinosos registados ao longo do ano – “um cenário mais normal” do que no ano passado.

Para 2018, a equipa do GelAVista continua a precisar da ajuda dos cidadãos. Se quiser contribuir, envie os seus avistamentos para [email protected] ou através da aplicação GelAvista para Android.

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

O que deve fazer, se quiser reportar o avistamento (ou não avistamento) de um organismo gelatinoso?

Estas observações são tão importantes no Inverno como no Verão. De acordo com o IPMA, basta enviar informação sobre o avistamento para o email do projecto, [email protected]. Neste, deve incluir dados sobre a data, local, número de organismos observados e ainda uma fotografia dos mesmos, sempre que for possível.

Fique ainda a conhecer melhor quais são e onde andam os organismos gelatinosos da costa portuguesa, neste artigo da Wilder.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.