Há lagartos que “têm estômago” para comer plantas

A vida numa ilha nem sempre é fácil. Para aproveitar aquilo que existe em muitas ilhas gregas, o sistema digestivo dos lagartos verdes dos Balcãs evoluiu consideravelmente em comparação com os membros da família que vivem no continente. Muitos destes lagartos que se alimentam de insectos têm mesmo válvulas especiais que os ajudam a digerir plantas, segundo um estudo publicado na revista The Science of Nature.

 

Os répteis conseguem ajustar o seu sistema digestivo e as preferências alimentares perante situações adversas, como a falta de chuva e pouco alimento. Estudos anteriores, por exemplo, mostram que, em várias ilhas gregas, os lagartos Lacerta trilineata, que se alimentam de insectos, alargaram a sua dieta para incluir mais plantas.

Para aprofundar esta investigação, a equipa de Konstantinos Sagonas, da Universidade Kapodistrian de Atenas, quis comparar grupos de lagartos nas ilhas de Andros e Skyros com outras duas populações no continente.

Os investigadores descobriram que os lagartos das ilhas têm um intestino delgado mais comprido comparado com os lagartos do continente. Os répteis da ilha de Skyros têm mesmo estômagos maiores. Além disso, os animais das ilhas desenvolveram umas válvulas especiais para abrandar a passagem do alimento e servir de câmaras de fermentação. Isto era algo desconhecido nos lagartos verdes.

Estas válvulas são comuns nos lagartos que se alimentam normalmente de plantas e albergam microorganismos que ajudam a fermentar e digerir o material vegetal. Segundo Sagonas, 30% da dieta destes lagartos das ilhas consiste em plantas, comparada com os 10% dos répteis do continente.

“Adaptações como estas permitem às populações insulares tirar partido dos recursos limitados das ilhas e, eventualmente, evitar morrer de fome”, explica Sagonas. Estas descobertas ajudam “a compreender melhor de que forma os animais são capazes de colonizar ilhas e manter populações viáveis”, acrescentou.

 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.