Há cada vez mais turistas a tirar selfies com animais selvagens e isso não é bom

Preguiças, jacarés e cobras são dos animais selvagens mais usados para selfies mas a lista é extensa. Esta semana foi divulgado um relatório e lançada uma campanha para acabar com esta prática de efeitos “devastadores”.

 

A investigação da organização não governamental Protecção Animal Mundial (World Animal Protection) resultou no novo relatório “Foco na Crueldade: o impacto negativo das selfies com vida silvestre na Amazónia”. Aqui são revelados os efeitos devastadores da crescente popularidade deste tipo de fotografias na vida selvagem da América Latina.

Desde 2014 até hoje foi registado um aumento de 292% no número de selfies com animais selvagens publicadas no Instagram, salienta a ONG.

O estudo analisou as atracções turísticas que oferecem diferentes formas de contacto directo com a vida selvagem, especialmente no Brasil e no Peru. “Muitas dessas atracções estão a explorar os animais de forma cruel (…) para oferecer aos turistas a oportunidade de tirar fotografias com eles e depois partilhá-las nas redes sociais”, denuncia a ONG.

Segundo o relatório, 54% das 249 atracções oferecem contacto directo com os animais, como segurá-los para tirar fotografias. 35% usavam comida para atrair animais selvagens e 11% ofereciam a oportunidade de nadar com eles.

Só em Manaus, no Brasil, 18 empresas de turismo ofereceram a oportunidade de segurar ou tocar em animais selvagens em quase todos os seus passeios (94%). Em Puerto Alegria, no Peru, a ONG encontrou 40 animais de 24 espécies em três locais.

“O manuseio repetido, as condições precárias de bem-estar, a exposição contínua à fotografia com flash e os ambientes não naturais” têm um “impacto devastador” nos animais, denuncia a ONG. “Eles sofrem com stress, doenças, lesões e até mesmo morte prematura.”

As preguiças são dos animais mais cobiçados para uma selfie. “Por causa dos seus movimentos lentos e de uma expressão facial que dá às pessoas a impressão de que estes animais estão sempre a sorrir, as preguiças tornaram-se no principal alvo desta exploração cruel da vida selvagem que tem como objectivo o lucro.”

Esta ONG lembra que “na natureza, a preguiça tem uma vida tranquila e pacata. Ser retirada da floresta é quase uma sentença de morte para ela”.

Por isso está a decorrer a campanha internacional “Código da Selfie com Animais Silvestres”, onde quem a assinar se compromete a não tirar selfies se os animais estiverem a ser agarrados, abraçados ou contidos de alguma forma, se estiverem a oferecer comida aos animais e ainda se o visitante correr o risco de se magoar.

Só se deve tirar uma selfie com um animal selvagem se a pessoa puder manter uma distância segura do animal, se ele estiver no seu habitat natural e se ele estiver livre para se movimentar.

“O objetivo da Protecção Animal Mundial é consciencializar todos os turistas a respeito dessa crueldade para que, assim, eles deixem de pagar para usar animais selvagens como acessórios em fotografias. Sabemos que muitas pessoas amam esses animais e escolherão não tirar uma selfie com eles se conhecerem a verdade sobre a crueldade que acontece nos bastidores.”

A ONG vai contactar as empresas de turismo para as sensibilizar para o problema e também o Instagram. “Pediremos ao Instagram que olhe além das lentes, conheça a crueldade nos bastidores e tome uma atitude para proteger os animais. Com mais de 700 milhões de utilizadores e 92 milhões de imagens carregadas no seu site todos os dias, essa plataforma tem poder e influência para proteger centenas de milhares de animais silvestres.”

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez. Saiba o que fazer:

A Protecção Animal Mundial sugere-lhe seis dicas para garantir que o seu encontro com animais selvagens seja bom também para eles:

  1. Assine o Código da Selfie com Animais Selvagens e comprometa-se a manter os animais na natureza;
  2. Se você pode abraçar, segurar ou fazer uma selfie com um animal selvagem é provável que ele esteja a sofrer abusos continuamente. Você pode ser abordado para pagar para tirar uma foto com um animal silvestre. Não faça isso;
  3. Não persiga ou capture animais selvagens para tirar uma fotografia;
  4. Não alimente ou atraia animais selvagens com comida ou iscos para que eles se aproximem para lhe tirar uma fotografia;
  5. Pergunte à sua operadora de turismo se permitem o contacto direto com animais selvagens. Se a resposta for não, é mais provável que seja uma operadora responsável;
  6. Informe quaisquer preocupações sobre o bem-estar dos animais selvagens nas atrações turísticas em plataformas online como a TripAdvisor e nas suas redes sociais. Isso ajuda a consciencializar outras pessoas sobre o problema para que elas também escolham experiências de vida silvestre que são boas para os animais.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.