Pangolim terrestre na África do Sul. Foto: David Brossard/Wiki Commons

Identificado o primeiro fóssil de pangolim na Península Ibérica

Os pangolins, que vivem na Ásia e em África, afinal também já existiram na Península Ibérica, descobriram paleontólogos catalães. A equipa encontrou um fóssil com 16 milhões de anos na Catalunha.

 

O fóssil, um fémur, foi encontrado na jazida de Can Cerdà, na região de Vallès-Penedès (Nordeste da Península Ibérica), e descrito por uma equipa liderada por David M. Alba, director do Instituto Catalão de Paleontologia Miquel Crusafont (ICP). A descoberta foi publicada ontem na revista Journal of Vertebrate Paleontology.

Este fémur, o primeiro registo fóssil de pangolins na Península Ibérica, pertence a um pangolim que ali viveu no Mioceno. Tem diferentes características primitivas em comparação com os pangolins actuais – como a presença de uma pequena depressão na cabeça do fémur – e está descrito como pertencendo ao género já extinto Necromanis.

Actualmente, há três géneros de pangolins: Manis (na Ásia) e Smutsia (pangolins terrestres) e Phataginus (pangolins arbóreos) em África. Estes três géneros distinguem-se pela distribuição geográfica e pelas adaptações de locomoção.

Mas a Europa já teve várias espécies de pangolins, há entre 23 e cinco milhões de anos. Pertenciam todas ao género Necromanis. Agora, esta equipa de paleontólogos descreveu um fémur de pangolim com 16 milhões de anos, atribuído a esse género. É o único registo conhecido deste grupo na Península Ibérica e está muito melhor preservado do que os outros fósseis encontrados até agora na Europa, dizem os investigadores.

Curiosamente, o fémur já foi escavado há várias décadas, na jazida de Can Cerdà, e foi referido pela primeira vez num artigo de Miquel Crusafont em 1975. Mas o material nunca tinha sido descrito e, aparentemente, caiu no esquecimento. A presença de fósseis de pangolins na Península Ibérica foi omitida dos artigos científicos publicados sobre este grupo durante mais de 20 anos. Até agora.

Alba descobriu a existência deste espécime a partir dos textos de Crusafont e foi relativamente fácil localizá-lo nas colecções do ICP. “É frequente os investigadores recuperarem fósseis extraordinários nas gavetas e armários dos museus. Ainda assim é muito raro descobrir fósseis das colecções da própria instituição ao ler a literatura publicada há 40 anos”, explicou o investigador, em comunicado.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.