Indústria ameaça quase metade do Património Mundial natural da Unesco

Actividades industriais como a exploração de petróleo e de gás e a construção de estradas colocam hoje em risco quase metade dos sítios designados pela Unesco como Património Mundial, incluindo a Floresta Laurissilva na Madeira.

 

O aviso foi lançado num relatório divulgado pelo World Wide Fund (WWF), que conclui que 114 dos 229 sítios designados pela Unesco como Património Mundial natural ou misto (estes últimos juntando critérios culturais e naturais) estão a ser ameaçados pela indústria.

Da lista destes 114 locais “ameaçados por actividades industriais nocivas”, consta a Floresta Laurissilva na Madeira, que é aliás o único sítio classificado por razões naturais, em território português. No caso madeirense, os autores do estudo identificam as estradas no local como a principal ameaça ao futuro deste património.

Os cerca de 15.000 hectares de Laurissilva que cobrem cerca de 20% da Madeira são na verdade o que resta da floresta que se estendia por toda a ilha quando ali chegaram os portugueses, em 1420. “Trata-se de uma floresta com características subtropicais, húmida, cuja origem remonta ao Terciário onde chegou a ocupar vastas extensões do Sul da Europa e da bacia do Mediterrâneo”, descreve a Comissão Nacional da Unesco.

A Laurissilva sobrevive hoje apenas nos arquipélagos dos Açores, Canárias e Madeira – sendo nesta última considerada a mais extensa e mais bem conservada – depois de ter desaparecido do Continente europeu devido às últimas glaciações.

Outros sítios classificados e considerados sob ameaça são por exemplo o Parque Nacional de Doñana, em Espanha (por má gestão dos sistemas hidrológicos), a Grande Barreira do Coral australiana (extracção mineira e comércio marítimo) e a região de Sichuan, na China, considerada o Santuário dos Pandas-Gigantes (concessões de petróleo e gás).

“Os sítios de Património Mundial da Unesco deveriam receber os níveis de protecção mais elevados, mas no entanto somos muitas vezes incompetentes para salvaguardar esta importante fracção da superfície da Terra”, sublinhou Marco Lambertini, director-geral da WWF International.

Segundo o relatório, mais de 11 milhões de pessoas – ou seja, “mais do que a população de Portugal” – dependem dos sítios classificados pela Unesco, pois é nestes que residem, encontram alimento e cuidados de saúde.

Por outro lado, mais de 90% destes locais fornecem empregos e benefícios que chegam muito além das suas fronteiras.

Entre várias medidas recomendadas, o WWF pede às empresas que se comprometam com o não envolvimento em actividades que possam degradar sítios classificados pela Unesco e aos governos para que não o permitam. O apelo da organização internacional estende-se aos bancos e a outras fontes de financiamento, para que não entreguem dinheiro a projectos ou companhias que esteja a colocar em risco este Património Mundial.

 

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Se quiser conhecer mais sobre o Património Mundial classificado pela Unesco, pode ler aqui.

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.