Jardins botânicos estão a proteger 40% das plantas ameaçadas

Os jardins botânicos do mundo são a melhor esperança para salvar as espécies de plantas ameaçadas. Contêm um terço de todas as plantas conhecidas e ajudam a conservar 41% das espécies em perigo, avança um artigo científico.

 

Este estudo analisou em detalhe as plantas que crescem nos jardins botânicos espalhados pelo mundo. São mais de 100.000 espécies e representam, pelo menos, 30% de todas as espécies de plantas conhecidas. Incluindo 41% de todas as espécies classificadas como ameaçadas.

“Esta é a primeira vez que fizemos uma avaliação global para analisar as plantas que crescem, que são cuidadas e conservadas nos jardins botânicos”, disse à BBC Paul Smith, secretário-geral da organização Botanic Gardens Conservation International. “Por isso, pela primeira vez sabemos o que temos e, talvez ainda mais importante que isso, sabemos o que está a faltar nos jardins botânicos.”

 

Prado. Foto: Cambridge University Botanic Garden

 

Este inventário botânico, publicado ontem na revista Nature Plants, cruzou a lista de espécies de plantas conhecidas no mundo – actualmente 350.699 espécies – com os registos de um terço dos jardins botânicos do planeta, 1.116 instituições.

E identificou lacunas nas colecções botânicas. A grande maioria das plantas nos jardins botânicos estão no Hemisfério Norte. Por isso, os jardins botânicos têm 60% das espécies de plantas das regiões temperadas e apenas 25% de espécies tropicais. Isto apesar de a maioria das espécies ser tropical.

 

Jardim Botânico Fairchild, Florida (EUA). Foto: BGCI

 

Além de as plantas tropicais estarem sub-representadas, o mesmo acontece com as plantas de linhagens mais antigas, como os musgos e as hepáticas. Apenas cinco por cento de todas as espécies não vasculares estão guardadas na rede mundial de jardins botânicos.

“As espécies não vasculares são os representantes vivos das primeiras plantas que colonizaram a terra”, disse Brockington. “Nestas plantas estão os momentos chaves da evolução da vida na Terra e elas são essenciais para compreendermos a evolução das plantas.”

Os autores do estudo acreditam que as plantas que não existem nos jardins botânicos são, muitas vezes, mais interessantes do que aquelas que lá são cultivadas. Dão o exemplo da planta aquática africana Hydrostachys polymorpha, que só cresce nos rios com caudal rápido e quedas de água, ou da pequena planta parasita Pilostyles thurberi – com apenas alguns milímetros, vive completamente dentro dos arbustos do deserto.

 

Hydrostachys polymorphs. Foto: David Gwynne Evans

 

Os investigadores notam também que apenas 10% das colecções são dedicadas a espécies ameaçadas, o que sugere que os jardins botânicos poderiam fazer mais para preservar algumas das plantas mais vulneráveis do planeta.

Samuel Brockington, curador do jardim botânico da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e co-autor deste estudo, acredita que a rede mundial de jardins botânicos é a melhor esperança para salvar algumas das plantas em maior perigo de desaparecer.

“Actualmente, um quinto da diversidade de plantas está ameaçada, ainda assim não há razão técnica para que qualquer espécie de planta se deva extinguir”, disse Brockington, em comunicado. “Os jardins botânicos protegem uma impressionante diversidade de plantas nas colecções mas precisamos responder directamente à crise da extinção.”

“Se não conservarmos a nossa diversidade de plantas, a humanidade vai ter problemas para resolver os desafios mundial da alimentação, combustíveis, degradação ambiental e alterações climáticas”, alertou.

 

Jardins de Singapura. Foto: BGCI

 

Cerca de 500 milhões de pessoas visitam jardins botânicos por ano. Além de serem uma atracção popular para os visitantes, são um centro de educação, aprendizagem e trabalho de investigação e conservação.

“Enquanto comunidade profissional, os jardins botânicos conservam e gerem uma diversidade de plantas maior do que qualquer outro sector. Mas ainda temos muito para fazer”, disse Paul Smith, em comunicado.

“Este estudo é extremamente importante porque nos vai permitir direccionar os nossos esforços muito mais eficazmente e trabalharmos juntos para garantir que as espécies botânicas não se extingam desnecessariamente”, acrescentou.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Descubra aqui quantas espécies de plantas foram descobertas para a Ciência em 2016.

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

Visite a exposição botânica patente no Museu Nacional de História Natural e da Ciência, em Lisboa.

Ouça o podcast Todas as Plantas Têm Nome, da Universidade de Coimbra.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.