Lince-ibérico. Foto: Programa de Conservação Ex-Situ do Lince-Ibérico

Jovem fêmea de lince-ibérico, Myrtilis, encontrada morta em Mértola

Myrtilis, fêmea de lince-ibérico com menos de um ano de idade, foi encontrada morta ontem pela equipa de campo do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), na região de Mértola.

 

“As causas da morte deste exemplar são ainda desconhecidas”, avança o ICNF num comunicado enviado hoje à Wilder. O animal foi levado para a Faculdade de Medicina Veterinária para a realização da necrópsia.

Myrtilis foi encontrada morta pela equipa de campo do ICNF que fazia a monitorização dos animais reintroduzidos em Mértola, numa zona próxima do local onde tinha sido libertada, a 25 de Janeiro. Juntamente com a fêmea Mirandilla e o macho Monfrague, Myrtilis deu início ao segundo ano de reintrodução de linces-ibéricos em Portugal, no âmbito de um esforço ibérico para devolver a espécie aos seus territórios históricos.

Myrtilis nasceu em Março de 2015 no Centro Nacional de Reprodução de Lince Ibérico, em Silves. A 25 de Janeiro deste ano foi libertada num cercado de adaptação na Herdade das Romeiras, em S. João dos Caldeireiros, no concelho de Mértola. A 8 de Fevereiro, foi libertada directamente na natureza.

Esta fêmea fazia parte do grupo de nove linces a libertar este ano naquela região alentejana, no âmbito do projecto de conservação Iberlince, a decorrer até 2017. Até agora já foram libertados sete linces: Myrtilis, Mirandilla e Monfrague (25 de Janeiro), Macela (8 de Fevereiro) e Mel, Mesquita e Malva (19 de Fevereiro).

Com a morte de Myrtilis, as equipas do projecto Iberlince passam a monitorizar no terreno os seis linces libertados este ano e nove libertados em 2014/2015: Katmandu, Jacarandá, Kempo, Loro, Liberdade, Lluvia, Lagunilla, Luso e Lítio.

O lince-ibérico (Lynx pardinus) é uma espécie que, até ao ano passado, estava classificada como “Criticamente em Perigo”. Em Junho de 2015, a União Internacional de Conservação da Natureza (UICN) passou a espécie para a categoria “Em Perigo”. Dos 52 linces-ibéricos adultos em 2002 existiam 156 em 2012. Hoje serão mais de 300.

A conservação da espécie faz-se a dois ritmos: ex-situ, com a reprodução de linces em cativeiro em cinco centros em Portugal e Espanha, e in-situ, com a recuperação de habitats e a libertação de animais. Neste momento já começou mais uma época de partos nos centros de reprodução em cativeiro, onde se espera que nasçam entre 28 e 40 crias. Na época anterior, de 2014/2015, nasceram um total de 61 crias, oito das quais morreram. Em Silves nasceram 11 crias.

A morte de Myrtilis vem lembrar que a conservação do lince-ibérico ainda não é uma batalha ganha, apesar da subida de categoria da UICN, em Junho passado. Como disse na altura Urs Breitenmoser, co-presidente do Grupo de Especialistas em Felinos da UICN, “o lince-ibérico ainda está Em Perigo (…). Ganhámos o primeiro “sprint”; agora também precisamos ganhar a corrida de fundo”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.