Lince-ibérico nascida em Silves já foi mãe de três crias

Graças a Juromenha, a reprodução em cativeiro de lince-ibérico em Portugal acaba de entrar numa nova fase. Pela primeira vez uma fêmea nascida no centro de Silves, há quatro anos, foi mãe. Com as suas três crias já são 10 os pequenos linces naquele centro.

 

Juromenha foi mãe pela primeira vez a 11 de Março, dia em que pariu três crias, fruto da sua união com Fresco. Este é um “motivo de grande orgulho para o CNRLI” (Centro Nacional de Reprodução de Lince-Ibérico), segundo um comunicado do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) divulgado hoje. “Trata-se da primeira fêmea nascida em Silves a dar à luz no centro português.”

Durante esta semana, Juromenha tem mostrado “um comportamento maternal exemplar e as crias seguem o seu desenvolvimento normal”, informa o ICNF. Estas três crias juntam-se às quatro crias de Fruta (nascidas a 6 de Março) e às três de Artemisa (nascidas a 3 de Março).

Como se isso não bastasse, Juromenha é um lince especial na história do CNRLI, centro que abriu portas no final de 2009 e onde no ano passado nasceram 11 linces.

Esta fêmea nasceu no centro a 5 de Março de 2012, filha de Biznaga e Drago. Fazia parte de uma ninhada de três crias. Logo após o parto, Biznaga abandonou duas das crias, Janes e Juromenha, na caixa ninho. “A terceira cria acabou por morrer, apesar de ser atendida pela mãe”, lembra o ICNF.

A equipa do CNRLI decidiu resgatar Janes e Juromenha, após esforços iniciais de devolução das crias à mãe. Ambas estavam muito fracas quando foram recuperadas e começaram a ser alimentadas no edifício de Cria Artificial do CNRLI. Dava-se assim início a um processo demorado de recuperação sem certezas de sucesso.

“Para evitar ou minimizar o imprinting – que faria com que estas fêmeas reconhecessem os humanos como sua espécie e parceiros sexuais no futuro – aos 49 dias iniciou-se a socialização das crias com os seus pais (…) com quem interagiram com frequência”, escreve o ICNF.

“Ao dia 92 de vida, após 41 dias de socialização com Biznaga e Drago, e após o período de lutas que caracteriza esta espécie – resolvido inteiramente pela equipa do CNRLI – iniciou-se a união das crias com Biznaga, que acabou por ensinar ambas a caçar e a matar presas vivas. Com o intuito de que reconhecessem no futuro um macho da sua espécie para a reprodução, foram também unidas ao seu pai, Drago, que as aceitou.”

O lince-ibérico (Lynx pardinus) é uma espécie que, até ao ano passado, estava classificada como “Criticamente em Perigo” de extinção. Em Junho de 2015, a União Internacional de Conservação da Natureza (UICN) passou a espécie para a categoria “Em Perigo”. Dos 52 linces-ibéricos adultos em 2002 existiam 156 em 2012. Hoje serão mais de 300.

A conservação da espécie faz-se a dois ritmos: ex-situ, com a reprodução de linces em cativeiro em Portugal e Espanha, e in-situ, com a recuperação de habitats e a libertação de animais. Neste momento já vai avançada mais uma época de partos nos cinco centros que fazem a reprodução da espécie em cativeiro. Portugal e Espanha definiram 23 casais de linces, seis dos quais foram emparelhados em Silves. São esperadas entre 28 e 40 crias. A maioria será libertada na natureza em 2017.

No ano passado nasceram 61 crias. Depois de um treino específico para a liberdade, 45 destes animais têm estado a ser reintroduzidos na natureza para reforçar ou criar novos núcleos populacionais.

Por agora espera-se o nascimento das crias de Era e Junquinha. Jabaluna, apesar de emparelhada com Enebro, não ficou gestante.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.