Lista de invertebrados da Serra do Buçaco tem 1.258 espécies

Nos últimos anos, a floresta do Buçaco tem sido passada a pente fino por investigadores que querem conhecer a sua biodiversidade. A lista dos entomólogos, que estudam insectos, tem pelo menos 1.258 espécies. Este mês foram descobertas sete exclusivas daquela região.

 

Os estudantes de Biologia da Universidade de Aveiro e do Porto, Tatiana Pinhal e João Gonçalo Moreira, respectivamente, têm percorrido a serra do Buçaco à procura de invertebrados. Na semana passada num encontro no Luso anunciaram que seis espécies de escaravelhos e um colêmbolo são endémicas do Buçaco, ou seja, não existem em mais lugar nenhum do mundo. Este trabalho surge no âmbito do projecto BRIGHT (Bussaco´s Recovery from Invasions Generating Habitat Threats) da Fundação Mata do Buçaco, em parceria com a Universidade de Aveiro.

As espécies em questão, ainda mal estudadas, são os escaravelhos Abromus lusoensis, Euconnus fageli, Hesperotyphlus beirensis, Hesperotyphlus vicinus, Hyllaena lusitanica Fagel, Pselaphostomus bussacensis bussacensis, Stenus bussacoensis Puthz e o colêmbolo Pseudosinella gamae Gisin.

Outras maravilhas naturais do Buçaco incluem a rara formiga Solenopsis lusitanica Emery, a vaca-loura (Lucanus cervus), as borboletas Euphydryas aurinia e a Euplagia quadripunctaria e a lesma Geomalacus maculosus Allman.

“Todas estas espécies estão dependentes da floresta nativa e carecem de maior atenção, especialmente devido às alterações climáticas e às ameaças de perda de habitat nas quais as plantas invasoras e atividades humanas prejudiciais ao ambiente têm representado parte importante”, sublinha a investigadora Milene Matos, da Unidade de Vida Selvagem do Departamento de Biologia da UA, uma das orientadoras dos trabalhos, citada em comunicado.

No total estão catalogadas na Serra do Buçaco 1.258 espécies de invertebrados. Destas, 219 surgiram na sequência do trabalho desenvolvido nos últimos quatro anos por vários especialistas – entre eles Eduardo Marabuto, Pedro Pires, Martin Corley – e voluntários.

“Estes trabalhos constituem o segundo maior contributo para o conhecimento da serra, após o pioneirismo do primeiro entomólogo português, Paulino de Oliveira há mais de 120 anos atrás”, segundo o comunicado da Universidade de Aveiro.

Os invertebrados ajudam a controlar pragas, são excelentes bioindicadores da qualidade dos solos e das águas. Estes animais “são imensamente diversos e permitem ainda relevar a importância da Mata Nacional do Buçaco para a preservação de uma biodiversidade em declínio e colmatar a escassez de informação destes grupos taxonómicos para o centro do país.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.