Lista Vermelha: 25% das espécies dos gafanhotos e grilos da Europa estão ameaçadas

A primeira Lista Vermelha europeia para os gafanhotos, grilos e esperanças, publicada recentemente, avaliou o estatuto de conservação de todas as 1.082 espécies nativas da Europa. Mais de um quarto estão em risco de extinção.

 

Actualmente, 25,7% das espécies de grilos, esperanças e gafanhotos – um grupo chamado Orthoptera – estão ameaçados na Europa, segundo esta nova Lista Vermelha, um projecto financiado pela Comissão Europeia que demorou dois anos a fazer, reunindo mais de 150 especialistas.

Segundo estes peritos, 49 espécies (4,6%) estão Criticamente em Perigo, 120 espécies (11,2%) estão Em Perigo, 107 (10%) estão Vulneráveis e 149 (13,9%) estão Quase Ameaçadas.

Das 1.082 espécies avaliadas, 30,2% (325 espécies) têm populações em declínio, 7,6% (82) estão estáveis e apenas 3,2% (34) estão a aumentar. “Contudo, as tendências populacionais para a maioria das espécies (59%, 634 espécies) ainda são desconhecidas”, alerta o relatório.

Das 739 espécies (68,3%) que são endémicas da Europa, ou seja, que não existem em mais lugar nenhum do mundo, 31,3% (231) estão ameaçadas. Por isso “a Europa tem uma grande responsabilidade em conservá-las”, diz Humberto Rosa, director do Directorate D: Natural Capital da Comissão Europeia.

As áreas com mais elevada diversidade de espécies são o Sul da Europa, especialmente as regiões do Mediterrâneo e dos Balcãs. A Península Ibérica está entre os hotspots para espécies endémicas, juntamente com a Itália, Balcãs e algumas regiões dos Alpes, Pirinéus, Cárpatos e Apeninos. A maior concentração de espécies ameaçadas encontra-se ao longo de alguns troços da costa e montanhas do Mediterrâneo.

De todos os grupos de insectos e invertebrados terrestres já avaliados pela Lista Vermelha da UICN, este é o mais ameaçado. “Espero que esta Lista Vermelha ajude a tornar os insectos numa mais elevada prioridade de conservação para cientistas e decisores políticos”, acrescentou Humberto Rosa.

“Os resultados desta Lista Vermelha são profundamente preocupantes”, diz Luc Bas, director do departamento da UICN para a Europa. “Populações saudáveis destes insectos são cruciais para manter os ecossistemas na Europa, que são a base do bem-estar social e económico”, acrescentou.

 

Agricultura intensiva e fogos como as grandes ameaças

“As mudanças rápidas na paisagem europeia estão a afectar muitas espécies, incluindo insectos que nos são muito familiares, como os grilos e os gafanhotos”, diz Jean-Christophe Vié, vice-director do Programa Global de Espécies da UICN, em comunicado. “Para trazer estas espécies de volta do limiar da extinção é preciso fazermos mais para proteger e recuperar os seus habitats (…). Se não agirmos agora, o som dos grilos nos prados europeus será, rapidamente, uma coisa do passado.”

Os grilos, esperanças e gafanhotos são uma importante fonte de alimento para muitas aves e répteis europeus e o seu declínio poderá afectar ecossistemas inteiros. Além disso, são indicadores da saúde dos ecossistemas e da biodiversidade dos campos.

A intensificação da agricultura – que levou à perda, degradação e fragmentação dos habitats nos campos – tem sido identificada como a maior ameaça às espécies. São especialmente afectadas pelo pastoreio intensivo, pelo sobre-crescimento de plantas nos pastos abandonados, pela conversão dos campos de plantas silvestres em zonas de cultivo, uso de fertilizantes e de pesticidas, pela maquinaria pesada e pela limpeza frequente dos campos.

Além disso, estes insectos estão a ser dizimados pelos incêndios, especialmente na Grécia e nas ilhas Canárias. Muitas espécies costeiras estão também a ser afectadas com o desenvolvimento turístico e urbanização, como o gafanhoto Sphingonotus nodulosus; um dos poucos locais onde ainda existe está ameaçado por um campo de golfe em Portugal.

Este relatório aconselha a criação de um programa de monitorização pan-europeu para as espécies de gafanhotos, grilos e esperanças a fim de obter informação sobre as tendências populacionais. “Precisamos urgentemente de mais investigação e recursos para evitar que outras espécies se extingam sem ninguém saber”, comentou Axel Hochkirch, responsável pelo Grupo de Especialistas sobre Gafanhotos na UICN.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Conheça aqui a Lista Vermelha europeia dos gafanhotos, grilos e esperanças.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.