Livro sobre o que torna os polvos fascinantes vence prémio de escrita de natureza

O livro The Soul of an Octopus: A Surprising Exploration into the Wonder of Consciousness, de Sy Montgomery, foi o vencedor do Orion Book Award, prémio que distingue as obras que aprofundam a ligação dos leitores ao mundo natural.

 

Sy Montgomery, escritora e naturalista norte-americana de 58 anos, passou três anos a mergulhar e a visitar um aquário em Boston para tentar conhecer melhor os polvos, animais com uma incrível inteligência e capacidades físicas e com uma biologia e um comportamento únicos.

O grande trunfo do livro é a “capacidade da autora em criar ligações emocionais entre ela, o seu sujeito e os seus leitores. Montgomery escreve com tanta curiosidade, emoção e humanidade que a nossa compreensão do distante mundo destes belos animais se transforma profundamente”, escrevem os editores da revista Orion a 17 de Outubro, dia em que foi conhecido o vencedor.

Este livro, editado pela Atria Books em Maio de 2015, foi o escolhido de uma lista de quatro finalistas: The Oyster War: The True Story of a Small Farm, Big Politics, and the Future of Wilderness in America, de Summer Brennan; H Is for Hawk: A Memoir, de Helen MacDonald (editado em Portugal como A de Açor, em Novembro de 2015 pela Lua de Papel); A River Runs Again: India’s Natural World in Crisis, from the Barren Cliffs of Rajasthan to the Farmlands of Karnataka, de Meera Subramanian.

Desde 2007 que todos os anos a revista Orion atribui este prémio aos livros publicados nos Estados Unidos no ano anterior, que celebram a excelência da escrita e o aprofundamento da ligação dos leitores ao mundo natural. Entre os vencedores deste prémio de outras edições está Feral, de George Monbiot, e The Bees, de Laline Paull.

Este ano, a distinção foi para Sy Montgomery. Durante três anos, Sy esteve no Aquário de Nova Inglaterra, em Boston, e mergulhou nos recifes da Polinésia Francesa, para conhecer os polvos de perto.

“Sabia pouco sobre polvos (…). Mas o que sabia intrigava-me. Aqui está um animal com veneno como uma cobra, com uma tinta como uma caneta antiga. Pode pesar tanto como um homem e estender-se tanto como o comprimento de um carro, mas ainda assim consegue passar por uma abertura do tamanho de uma laranja. Pode mudar de cor e de forma. Pode saborear com a sua pele. Mais fascinante do que tudo, li que os polvos são espertos”, escreve Sy no primeiro capítulo do seu livro.

Durante uma entrevista à CBS News, Sy reconheceu que os polvos não têm uma boa reputação. “Tem algo a ver com serem um invertebrado, estarem cobertos por limo… e pelos tentáculos”.

Athena, uma fêmea, foi o primeiro polvo que conheceu, no aquário de Boston. “O tratador abriu o topo do seu tanque e fui surpreendida por vê-la ficar vermelha de ansiedade e por se aproximar de mim, com os seus grandes olhos a fixar os meus”, contou à CBS News no ano passado. “Fiquei tão entusiasmada porque, enquanto lhe fazia festinhas na cabeça, ela começou a ficar de uma tonalidade mais clara, um sinal de um polvo relaxado.” Para a autora, Athena representou uma espécie de porta para o próprio oceano.

Mas, como escreve o jornalista Ben East no jornal britânico The Guardian, mais do que contar os seus encontros com vários polvos, Sy convence por tentar conhecer este estranho e mal-compreendido animal. Ela descobre que eles são muito inteligentes, brincalhões e capazes de serem amigos e carinhosos. Acima de tudo, acrescenta, “este livro com muitos tentáculos (…) refresca a nossa relação com uma toda ordem biológica”.

“Estes polvos mudaram a minha forma de pensar”, admite a naturalista à CBS News. “Ensinaram-me que há muitas maneiras diferentes de conhecer, pensar e sentir, e que todas são importantes.”

 

[divider type=”thick”]Saiba mais sobre a Orion.

A Orion, fundada em 1982 como Orion Nature Quaterly e com presença online desde 1998, tem como missão “informar, inspirar e envolver as pessoas e as organizações para se tornarem numa significativa força cultural para cuidar da natureza e das comunidades”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.