lobo ibérico
Lobo ibérico conservado no Museu de História Natural, Lisboa. Foto: Joana Bourgard

Loba morre atropelada por vários carros em autoestrada espanhola

Uma fêmea de lobo-ibérico (Canis lupus signatus) morreu na quinta-feira passada depois de ter sido atropelada por vários automóveis na autoestrada de Burgos (A-1), em Espanha.

 

Segundo o jornal El País, a loba foi encontrada na noite de quinta-feira por agentes florestais ao quilómetro 80 da A-1, na região de Valle del Lozoya, na Serra de Guadarrama, a Norte da comunidade de Madrid.

O animal foi imediatamente levado para o Centro de Recuperação de Animais Silvestres (CRAS) de Burgos, cujos técnicos comprovaram que a loba tinha lesões compatíveis com várias colisões de automóveis.

De momento, ainda não se conhecem os resultados da necropsia para conhecer em detalhe como morreu este lobo-ibérico, espécie protegida pela legislação europeia (Directiva Habitats), e se estava grávida.

A rede de estradas na zona torna muito difícil acabar com o atropelamento de lobos, considerou o biólogo Juan Carlos Blanco àquele jornal.

O El País lembra que o lobo-ibérico desapareceu da comunidade de Madrid nos anos 40 do século passado. Em 2013 foi detectada uma alcateia naquela região, mais concretamente no Parque Nacional de Guadarrama.

A convivência com humanos nem sempre é pacífica. Actualmente Espanha terá entre 2.000 e 2.500 lobos. Mas a sua distribuição pelo território é desigual. As populações no Sul (Serra Morena, Serra da Gata e San Pedro) estão quase extintas e estão protegidas, enquanto que as do Norte (Galiza, Astúrias e Castela e Leão) estão a expandir-se, chegando a Madrid e Guadalajara. Aqui são animais cinegéticos.

Mas tanto a Norte como a Sul do rio Douro, os lobos estão a ser abatidos, com a justificação de diminuir os ataques ao gado.

Em Março, cerca de 30.000 pessoas, segundo a WWF espanhola, juntaram-se no coração de Madrid para pedir uma maior protecção para o lobo-ibérico em Espanha. Pediram que esta seja considerada uma espécie protegida em todo o território espanhol e que terminem a caça e os controlos populacionais.

Em Portugal, o mais recente censo nacional ao lobo-ibérico, de 2002/2003, identificou 63 alcateias (51 confirmadas e 12 prováveis) no Norte e Centro do país. A população foi, então, estimada entre 220 e 430 animais. Mais tarde, estudos compilados entre 2003 e 2014 deram conta da existência de 47 alcateias (41 confirmadas e seis prováveis).

Há quase 30 anos que esta é uma espécie protegida em Portugal, desde que a Lei nº90/88, de 13 de Agosto, estabeleceu pela primeira vez as bases para a protecção do lobo-ibérico. Em 2005 foi classificado com o estatuto de Em Perigo (Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal).

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.