flamingos no meio de um curso de água
Flamingos. Foto: Andrea Schaffer/Wiki Commons

Maior colónia de flamingos do Mediterrâneo prepara-se para nova época de reprodução

Cerca de 30.000 flamingos estão neste momento na Reserva Natural Laguna de Fuente de Piedra, em Málaga (Espanha) a preparar-se para a nova época de reprodução. Na maior colónia reprodutora da espécie no Mediterrâneo, o sucesso vai depender das chuvas de Abril e Maio.

 

“Desde a última semana de Março, o número de casais reprodutores tem vindo a aumentar na área de reprodução”, informa hoje a Junta da Andaluzia em comunicado. Actualmente são cerca de 30.000 os flamingos (Phoenicopterus roseus) que se juntam naquela lagoa, a maior colónia destas aves da Península Ibérica e do Mediterrâneo.

O programa de anilhagem de flamingos que se realiza ali há mais de 30 anos permite conhecer a proveniência destas aves. “A lagoa alberga aves vindas de todas as colónias do Mediterrâneo”, acrescenta a Junta da Andaluzia. “A maioria nasceu e foi anilhada em Fuente de Piedra, mas também há aves da colónia francesa de Camargue, do Delta do Ebro, Cerdeña, Itália, Argélia e Turquia.”

Os flamingos dependem muito de quanta água existe na lagoa. A precipitação em Fuente de Piedra no ciclo hidrológico que começou em Setembro de 2016 e terminou em Março deste ano foi “inferior à média de 357,7 litros/m2, com 240 litros/m2”, acrescenta a Junta. Ainda assim, as chuvas dos últimos dias permitiram que esta zona húmida tenha um nível de água adequado (28 centímetros) para que os flamingos iniciem a reprodução.

“Com este nível de água na lagoa, as aves têm ilhas onde podem estabelecer as suas colónias de reprodução, a salvo de qualquer tipo de perigos, e acesso a alimento, principalmente zooplâncton, durante a fase da postura dos ovos e incubação”, explica a Junta.

Agora, os responsáveis estarão atentos à precipitação dos meses de Abril e Maio porque irão “determinar o êxito reprodutor e o número de casais que se estabelecerão este ano na colónia”.

O flamingo não nidifica em Portugal. No final dos anos 80 foi registada uma tentativa de nidificação nos sapais de Castro Marim, mas sem sucesso. Depois, outro caso de nidificação da espécie foi anunciado em Maio de 2010, na Lagoa dos Salgados, no Algarve, entre os concelhos de Albufeira e Silves. Um observador de aves encontrou dois ninhos e avisou a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (Spea). Depois de a associação lá ter ido, confirmou a nidificação. Mas não houve crias.

Em Portugal, a espécie pode ser observada durante todo o ano, nas zonas húmidas litorais desde o estuário do Tejo até ao Algarve. Procura águas pouco profundas ou lamas entre-marés. A maioria dos indivíduos vem das colónias de Espanha, nomeadamente de Fuente Piedra e do Delta do Ebro, e do Sul de França (Camargue). Estima-se que 7.500 flamingos passem o Inverno em Portugal, segundo o livro “Aves de Portugal” (2010). Os locais mais importantes são os estuários do Tejo, do Sado, a Ria Formosa e a Reserva Natural de Castro Marim.

 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.