Mais de 130 ONG pedem à UE orçamento para proteger biodiversidade

Representantes de 132 organizações não governamentais saíram hoje às ruas em Bruxelas para pedir aos chefes de Estado da União Europeia, que se reúnem hoje naquela cidade para debater o Orçamento da UE, mais dinheiro para proteger a biodiversidade.

 

“Com a conservação da natureza notoriamente ausente das discussões sobre o futuro da Europa e do Orçamento da União Europeia, a Birdlife Europe apelou aos representantes ali reunidos para quebrarem o ‘Silêncio dos Líderes'”, escreve a Birdlife em comunicado. Ou seja, pediu mais financiamento para a natureza no âmbito do próximo Orçamento da União Europeia.

A Liga para a Protecção da Natureza (LPN) – que com a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (Spea) representam Portugal neste apelo – recorda que hoje “vivemos uma crise ao nível da biodiversidade e o tema da Natureza continua ausente das discussões sobre o futuro da Europa e do orçamento da União Europeia”.

Enquanto as conversações decorrem na cimeira informal do Conselho Europeu, manifestantes reuniram-se nas proximidades, vestidos de vários chefes de Estado da União Europeia, com máscaras inspiradas no filme “O Silêncio dos Inocentes”.

“Nesta reunião vão ser dados passos na discussão do futuro quadro financeiro da UE e muito provavelmente a natureza e a sua conservação ficarão de fora da discussão ou com um papel claramente secundário. Vamos alertar o nosso primeiro-ministro António Costa da urgência de se pensar na biodiversidade como prioridade”, apela a Spea.

A Birdlife Europe, apoiada por outras 132 organizações, exige que as palavras vazias sejam suportadas por acções orçamentais concretas. Mais concretamente, estas ONG pedem 15 mil milhões de euros para a Rede Natura 2000, mil milhões de euros para garantir os programas LIFE, mil milhões para o Fundo dos Oceanos e mil milhões para uma rede de infraestruturas verdes trans-europeia, que garanta a conectividade ao nível da paisagem e assim aumentar a protecção das espécies migradoras.

“Se os líderes da União Europeia quiserem ter credibilidade junto dos seus cidadãos, devem mostrar que falam a sério sobre a biodiversidade e sobre o seu papel essencial para a sobrevivência do planeta”, comentou Harriet Bradley, da Birdlife Europe.

 

WWF/ANP pede 50% do orçamento para a natureza e clima

A WWF/Associação Natureza Portugal também aproveitou a ocasião da cimeira informal para pedir “um compromisso claro de integração da sustentabilidade em todas as rubricas orçamentais, afetando 50% do orçamento europeu para o clima e para a natureza”.

Em comunicado divulgado hoje, esta organização “critica o favorecimento dos aspectos económicos em relação a questões sociais e ambientais no atual orçamento da EU”. Exige, por isso, uma “eliminação completa de subsídios prejudiciais ao ambiente e um aumento do financiamento do Instrumento Financeiro para o Meio Ambiente (LIFE) – o único instrumento de financiamento da UE para a conservação da natureza – de 0,3% para pelo menos 1% do orçamento total”.

Entre as recomendações feitas pela WWF está o “estender do Mecanismo de Interligação da Europa existente (CEF) para incluir e prestar apoio financeiro a uma Rede Transeuropeia de Infra-estrutura Verde (RTE-G), garantindo a conectividade e restauração de habitats e serviços ecossistémicos em áreas prioritárias de valor agregado da EU”.

“A WWF reitera que a forma como o dinheiro dos contribuintes é gasto é importante e o orçamento da UE deve refletir os valores fundamentais europeus, como a democracia, os direitos humanos e um alto nível de proteção ambiental e climática.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.